Paulinho Criciúma defendeu o América em apenas duas temporadas, mas foi o suficiente para cair nas graças da galera e tornar-se ídolo do clube. E a recíproca é verdadeira. O ex-jogador diz ter criado um vínculo muito afetivo com o time rio-pretense. “Adoro o América, adoro Rio Preto e adoro as pessoas que conheci na cidade”, diz. “Afinal, foi o ponto de partida na minha carreira e onde me tornei conhecido”, acrescenta.
Paulinho chegou ao América no dia 28 de junho de 1982, indicado pelo técnico Lori Sandri. “Senti que seria a oportunidade de crescer profissionalmente”, diz. Ele veio emprestado por um ano e o centroavante Paulinho Cascavel foi cedido em definitivo ao Criciúma.
Meia-direita habilidoso e que gostava de arrumar espaço pelas beiradas do campo, Paulo Roberto Rocha nasceu em Criciúma no dia 30 de agosto de 1961. Também atuou improvisado como centroavante em algumas partidas. Deu os primeiros chutes nas categorias de base do time da sua cidade, aos 15 anos de idade. Permaneceu no clube catarinense até 1982. “Eu estava com 20 anos e já era ídolo no Criciúma”, informa.
Junto com ele vieram o volante gaúcho Suca, ex-Palmeiras e Bagé-RS, e o zagueiro mineiro Marcus Vinicius, do Atlético-MG. Estreou três dias depois, na vitória de 2 a 0 sobre o Tanabi em jogo amistoso. Na terça-feira, dia 6 de julho, Paulinho foi aplaudido pela torcida pelo ótimo primeiro tempo na goleada de 4 a 0 sobre o Matsubara-PR, também em jogo amistoso, no estádio Máruio Alves Mendonça, em Rio Preto. Ele fez o terceiro gol. O atacante Guilherme Macuglia marcou os outros três. Paulinho também atuou no 0 a 0 contra o Noroeste, dia 10 de julho.
O primeiro jogo oficial dele foi na derrota de 1 a 0 para a Ponte Preta, em Campinas, gol de Dicá, na abertura do Paulistão. O talento de Paulinho brilhou na segunda rodada na quarta-feira, dia 21 de julho. Ele deu duas assistências para os gols de Guilherme e Paulo Matos nos 2 a 1 de virada sobre o Guarani, no Mário Alves Mendonça.
Os dois primeiros gols de Paulinho pelo Rubro aconteceram na partida seguinte nos 3 a 1 contra o XV de Jaú, no dia 25 de julho.
Apesar de seus gols e assistências, o América ficou em 16º lugar entre os 20 participantes do Paulistão, com 32 pontos.
Ao término do empréstimo, a diretoria americana pagou Cr$ 23 milhões ao Criciúma para comprar o passe do meio-campista. Dias antes, o Rubro havia vendido o centroavante Fernando Roberto ao Sport Recife por Cr$ 18 milhões e usou o dinheiro para pagar parte do vínculo de Paulinho.
A segunda temporada de Paulinho no América foi ainda melhor. E com atuações em alto nível, ele ajudou a equipe a encerrar o estadual em 8º lugar entre os 20 clubes. Contra os quatro grandes, o meia atuou 11 vezes, com uma vitória, seis empates, quatro derrotas e três gols marcados.
Despediu-se com gol e brilhou no Bangu
A última partida oficial de Paulinho Criciúma no América foi nos 3 a 0 diante do São Bento de Sorocaba, no dia 6 de novembro de 1983, pela rodada final do Paulistão. Ele abriu o caminho para a goleada, aos 28 minutos do primeiro tempo.
“Tenho um carinho muito especial com a família do Cláudio Lahos, principalmente com a mãe dele, dona Teresinha”, disse. “Também guardo boas lembranças dos jogadores Valô, Tita, Mazzola, Ademir Gomes, Orlando Fumaça, Jorge Lima, Ademilson, Babá, Brasinha, Daniel e tantos outros. Tudo gente decente”, destacou.
O bom desempenho de Paulinho Criciúma no América chamou a atenção de outros clubes. “O Marinho (ponta-direita) tinha sido vendido ao Bangu seis meses antes e me indicou aos dirigentes de lá”, diz.
O folclórico Castor de Andrade, presidente do clube de Moça Bonita, agiu rápido e comprou o passe dele junto ao América. “O Moisés (treinador do time carioca) me viu jogando num amistoso contra o Taquaritinga e gostou”, informa. “Mas tive que abrir mão dos 15% do negócio porque o Graciani (Osvaldo, ex-tesoureiro) não queria me liberar.” O ex-jogador também brilhou no Bangu na temporada de 1984 e acabou emprestado ao Posco, da Coreia do Sul, por dois anos (1985 e 1986).
'Cavaleiros da Esperança' acabam com jejum do Botafogo
Ao retornar da Coreia do Sul, Paulinho Criciúma decidiu permanecer no Bangu, dono do seu vínculo. Ele foi campeão da Taça Rio e artilheiro do Cariocão com dez gols. “Fiz 21 gols pelo Bangu em 1987 e acabei vendido ao Botafogo”, afirma. “Fiquei sabendo que havia sido negociado no dia 28 de dezembro.”
No mesmo “pacotão”, o Alvinegro levou o ponta-direita Marinho e o zagueiro Mauro Galvão. “Joguei com o Marinho no América, no Bangu e no Botafogo”, destaca o ex-meia. O time de General Severiano estava há 20 anos sem conquistar títulos.
A imprensa carioca começou a chamar os três reforços de “Cavaleiros da Esperança”. Mesmo com jogadores experientes, como o centroavante Cláudio Adão, o meia Delei (campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984), o Fogão não emplacou, foi 5º colocado no Carioca e ficou no modesto 18º lugar no Brasileirão.
A redenção, porém, veio no ano seguinte com a conquista invicta do título estadual, quebrando um tabu de 21 anos sem levantar um caneco. O último tinha sido o da Taça Brasil de 1968. Na decisão de 1989, o Botafogo levou a melhor sobre o Flamengo. Houve empate sem gols no primeiro jogo e o Alvinegro venceu a segunda partida por 1 a 0, gol do ponta-direita Maurício.
A equipe botafoguense tomou gosto pela coisa e faturou o bi estadual em 1990 ao bater o Vasco na final, com gol de Carlos Alberto Dias. Na sua carreira, Paulinho só lamenta não ter sido convocado para defender a Seleção Brasileira. “Eu estava muito bem em 1989 e 1990, mas o Sebastião Lazaroni não quis me levar”, diz.
Ele também atuou no Internacional-RS, Nagoya Grampus, do Japão, Los Angeles Salsa, dos Estados Unidos, Montreal Impact, do Canadá, e Celaya, do México, onde pendurou a chuteira em 1996.
Depois, Paulinho foi empresário de jogadores, teve uma franquia do colégio Objetivo, trabalhou com seguro de cargas e desde 20 de janeiro de 2012 é comentarista do canal por assinatura SporTV, em Santa Catarina. Viúvo de Isabela, que morreu em 2004, vítima de câncer, Paulinho é pai dos gêmeos Luca e Lara. Ele mora em Florianópolis.
FICHA TÉCNICA
AMÉRICA 3
Paulo Cesar Borges; Suemar, Marcus Vinicius, Jorge Lima e Ademir Gomes; Miro, Paulinho Criciúma (Lacerda) e Toninho; Marinho, Guilherme Macuglia e Paulo Matos (Mazzola). Técnico: Chiquinho Silva Neto.
XV DE JAÚ 1
Carlos; Sérgio Cunha, Edvaldo, Luis Carlos e Cidinho; Jean, Célio e Níveo; Osni, Nilson (Paulo) e Tiquinho. Técnico: João Carlos Moya.
Gols: Paulinho Criciúma aos 20 e Marinho aos 25 minutos do 1º tempo. Paulinho aos 7 e Osni aos 14 do 2º. Árbitro: Antonio Carlos dos Santos. Renda: Cr$ 1,080 milhão. Público: 3.768 pagantes e 4.136 no total. Local: Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, no domingo, 25/7/1982, pelo Paulistão, quando Paulinho fez seu 3º jogo pelo Rubro e marcou seus dois primeiros gols.
FICHA TÉCNICA
AMÉRICA 3
Valô; Edson Oliveira, Orlando Fumaça, Jorge Lima e Babá (Toinzinho); Ademilson, Nélio e Paulinho Criciúma; Tita (Vilmar), Carlos Alberto Carvalho e Baroninho. Técnico: João Avelino.
SÃO BENTO 0
Hélio; Wilson Campos, Benê, Amadeu e Eraldo; Zé Carlos, Batata e Toninho Santos (Nivaldo); Luizinho, Pedro Verdum e Antonio Carlos (Odair). Técnico: Nenê.
Gols: Paulinho Criciúma aos 28 minutos do 1º tempo. Nélio aos 15 e Tita aos 35 do 2º.
Árbitro: Euclides Zampereti Fiori.
Expulsão: Luizinho. Renda: Cr$ 1,364 milhão. Público: 2.075 pagantes.
Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, no domingo, dia 6 de novembro de 1983, pelo Paulistão, no último jogo oficial de Paulinho Criciúma pelo América.