Revelado no XV de Jaú e com passagens por Votuporanguense, Ituano, Bandeirante de Birigui, Catanduvense, Rio Preto, Náutico-PE, Corinthians de Presidente Prudente e Lençoense, o lateral-esquerdo Felício estava em campo pelo Galo da Comarca no estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, contra o América, pelo Paulistão de 1986. O “jogo da marmelada”, como ficou conhecido, completou 30 anos no último dia 13 de agosto.
O confronto terminou num modorrento empate sem gols. Era a reta final do estadual, as duas equipes estavam ameaçadas de rebaixamento e se livravam do risco com mais um ponto cada. Os 6.051 torcedores ficaram incrédulos ao presenciar um espetáculo deprimente. Os goleiros Roberto Costa, do Rubro, e Jair, do XV, foram meros espectadores durante os 90 minutos. Os presidentes Benedito Teixeira, o Birigui, e Palmiro Guirro teriam combinado o resultado antes da partida.
Os indícios de armação ficaram evidentes logo nos primeiros minutos, quando o ponta-direita americano Izael recuou uma bola do meio de campo para Roberto Costa. Numa falha da zaga do Vermelhinho, o meia-atacante Níveo recebeu lançamento em profundidade e sairia na cara do gol, mas virou-se e a bola bateu em suas costas, desperdiçando uma chance clara. O único chute a gol foi do volante Ademilson Tapparo do meio da rua, sem nenhum perigo para Jair.
Revoltados, torcedores atiraram ao gramado copos com água, urina ou areia. Até os associados do América se rebelaram. Arrancaram os assentos das cadeiras cativas e arremessaram em direção ao campo. A partir dos 10 minutos do segundo tempo, parte da galera deixou o estádio. O empate de 0 a 0 prejudicou Paulista e Comercial, que tinham 31 pontos cada, e não alcançavam mais América e XV, que possuíam 34 cada.
Os clubes de Jundiaí e Ribeirão Preto ingressaram na justiça pedindo a realização de um novo jogo, mas não obtiveram êxito e amargaram o rebaixamento. De acordo com Felício, o resultado não foi arranjado. “Jogamos para ganhar, mas prevaleceu a forte marcação dos dois times”, afirma. “Foi uma partida muito confusa por parte da torcida.” O ex-lateral diz que se lembra muito pouco daquele confronto. “A certa altura fiquei mais preocupado em não ser atingido pelos objetos atirados pela torcida. Acertaram o César (lateral-direito do América).”
América 0 X 0 XV de Jaú - 13 de agosto de 1986
Ficha técnica:
América
Roberto Costa; César, Orlando Fumaça, Roberto Fonseca e Daniel; Ademilson Tapparo, Dito Siqueira e Serrano; Izael (Nena), César Coelho e Emo. Técnico: João Avelino.
XV de Jaú
Jair; Adilson Neri, Paulo César (Tobias), Marcelo e Felício; Sales (Antonio Carlos), Adriano e Níveo; André, Nilson e Osmar Volpato. Técnico: José Duarte.
Árbitro: Ulisses Tavares da Silva Filho. Renda: Cz$ 106.260,00. Público: 6.051 torcedores. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, na quarta-feira, dia 13 de agosto de 1986, pelo Paulistão.
Conturbada passagem pelo Rio Preto
Em 1990, Felício estava emprestado pelo XV de Jaú ao Catanduvense, que integrava o Paulistão, e rescindiu com o clube de Catanduva. Logo depois foi cedido ao Rio Preto para disputar a Divisão Intermediária (atual A-2). Se apresentou ao técnico Pinho na terça-feira, dia 15 de maio, junto com o atacante Vital (que havia retornado de empréstimo ao Barretos) e do lateral Joice, emprestado pelo Corinthians. Felício se recuperava de uma contratura muscular na coxa e ficou fora das partidas contra Sertãozinho, Votuporanguense, Tanabi e Taquaritinga.
Estreou na vitória de 1 a 0 sobre o Olímpia, na quarta-feira, dia 6 de junho, gol de Vital, de cabeça, aos 16 minutos do segundo tempo. Depois, voltou a sentir uma contusão na derrota para a Francana pelo mesmo placar, no dia 15 de julho. Desfalcou a equipe contra Votuporanguense, Sertãozinho, Tanabi e Taquaritinga. Recuperado, retornou ao time diante do Olímpia (0 x 0). Jogou mais duas vezes contra Francana (0 x 0 e 2 x 5), Nacional (1 x 0) e Rio Branco de Americana (0 x 2). Ao todo, foram sete partidas pelo Jacaré, com duas vitórias, dois empates e três derrotas.
Fora do jogo contra o Marília, quando o Rio Preto venceu por 1 a 0, no dia 23 de setembro, após o duelo, Felício discutiu com o técnico Pinho no vestiário do Riopretão, e acabou contido pelo preparador de goleiros Osvaldo Roberto Costa, o Val. Mais tarde, Felício encontrou com Val em um lanche, na avenida Faria Lima, perto do estádio e, de acordo com boletim de ocorrência registrado pelo delegado Afonso Carmona, o lateral teria apontado um revólver para o preparador de goleiros. Outros jogadores estavam no local e acalmaram os ânimos. Por causa do incidente, Felício teve o contrato rescindido pela diretoria do Rio Preto.
Vestiu a camisa de nove equipes
Nascido no dia 2 de janeiro de 1963, em Caconde-SP, perto de Poços de Caldas, o lateral-esquerdo Felício Aparecido da Cunha começou a carreira em 1982 no XV de Jaú. “Meu irmão Sérgio Cunha jogava no XV e me levou pra lá”, recorda. Lançado no profissional pelo técnico Galli em 1984, ele teve de aguardar a oportunidade para se firmar. “O titular da posição era o Chico Fraga, ex-São Paulo e Santa Cruz”, informa.
Em 1987 foi emprestado para a Votuporanguense. Defendeu o Ituano em 1988, Bandeirante de Birigui (1989), Catanduvense e Rio Preto (ambos em 1990), foi vice-campeão pernambucano pelo Náutico em 1991. Jogou também no São Paulo de Rio Grande-RS (1992), XV de Jaú (1993), Corinthians de Prudente (1994) e Lençoense (1995).
Depois, ele começou a trabalhar como auxiliar técnico no Japão. Voltou ao Brasil em 2003, foi auxiliar três anos no Sertãozinho. Assumiu o cargo de técnico do XV de Jaú em 2005. Posteriormente, comandou Jaboticabal, Sertãozinho, Costa Rica-MS, São Carlos, Taquaritinga, Inter de Bebedouro e subiu com a Ferroviária do A-3 para o A-2 em 2010. Pai de Danila, Roberta e Maria Elisa, Felício mora em Caconde.