Vilera; Xatara e Fogosa; Adésio, Bertolino e Ambrozio; Cuca, Leal, Dozinho, Vidal e Orias. Este era o time base do América que conseguiu o inédito acesso ao Paulistão e que até hoje está na memória dos torcedores americanos. O Flash Bola já retratou as histórias individuais de Xatara, Bertolino, Ambrozio, Cuca, Leal, Orias, e de Colada, Élio Calhado e Oscar Ribeiro, que também integraram o elenco campeão da Segunda Divisão de 1957 (atual A-2).
Nesta edição, vamos contar a trajetória do zagueiro-central Fogosa, que tinha 22 anos quando veio de Patos de Minas. Aloísio Barbosa passou a ser chamado de Fogosa ainda na infância por causa do seu irmão mais velho, que tinha o mesmo apelido, também foi jogador e atuou como centroavante do Corinthians e do Atlético-MG. No Timão, ele disputou apenas dois amistosos em 1946.
O becão Fogosa estreou no América na derrota para o Barretos por 1 a 0, no amistoso realizado no domingo, dia 1º de julho de 1956, no estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto. As partidas seguintes dele foram no empate de 1 a 1 com a ADA, em Araraquara, e na goleada de 5 a 1 sobre o Estrela da Saúde, de São Paulo.
Seguro e muito técnico, Fogosa foi titular em 22 dos 24 jogos disputados na vitoriosa campanha do Rubro em 1957. Sofreu uma contusão na vitória de 3 a 1 diante do Garça, fora de casa, pela 10ª rodada, no dia 4 de agosto, e desfalcou a equipe nas vitórias sobre Marília (5 a 0) e Tupã (3 a 0), ambas no Mário Alves Mendonça, nos dias 1 e 8 de setembro, respectivamente.
Além do título da Segundona, ele também foi campeão do Torneio Início do Paulistão de 1958. Contemporâneos dele não poupam elogios. “Era um zagueiro clássico, estiloso e de uma categoria impressionante”, afirmou o ex-ponta-esquerda Élio Calhado.
Agostinho Brandi, o ex-goleiro Tino, não chegou a jogar com Fogosa, mas teve grande amizade com ele. “Jogador de nível de Seleção Brasileira, ele foi um dos melhores beques da história do América”, afirmou. “Ele não cometia faltas.”
O historiador Rui Guimarães também recorda algumas peculiaridades de Fogosa. “Magro e fininho, ele jogava com as meias abaixadas, pedia para os companheiros de zaga dar o primeiro combate e saía na boa com a bola dominada”, informa. “Era calmo, não dava chutão e saía jogando com extrema tranquilidade”, disse Rubens Bruno da Silva, o ex-atacante Colada.
Pênalti era com ele mesmo. “Foi o Fogosa quem inventou a paradinha, em 1956, bem antes do Pelé”, destaca Rui Guimarães. “Fez nove gols de pênalti pelo América”, acrescenta Colada.
No entanto, o zagueiro desperdiçou um pênalti no jogo contra o Palmeiras, no dia 17 de julho de 1960, pelo Paulistão, no MAM, defendido pelo goleiro Waldir Joaquim de Moraes. “Depois acusaram o meia João Jorge (do Palmeiras e que estava emprestado ao América) de ter soprado o canto que o Fogosa batia”, diz Rui Guimarães. O Rubro perdeu de 1 a 0 e ele deixou o campo hostilizado pela torcida.
Alcoolismo atrapalhou
O futebol refinado de Fogosa chamou a atenção de dirigentes de outros clubes. Emissários do Palmeiras estiveram no estádio Mário Alves Mendonça acompanhando alguns jogos do América em 1959, porém não o levaram por problemas extracampo.
O Santos também o assediou, mas logo desistiu. “Os santistas descobriram que ele bebia, descartaram a sua contratação e acertaram com Modesto, do Barretos”, informou Rui Guimarães. “Ele só não foi para o Santos por causa da bebida”, diz Élio Calhado.
Agostinho Brandi, o Tino, diz que o vício dominou o brilhante defensor e abreviou a carreira dele. “Infelizmente, ele não levou o futebol a sério”, diz. “A bebida acabou com ele. Por isso, sua carreira foi encerrada precocemente.”
Afastado por agredir meia
Excelente zagueiro, Fogosa teve problemas disciplinares. Ele agrediu o meia João Jorge durante treino na segunda-feira, dia 17 de outubro de 1960, dois dias antes da vitória do América por 2 a 0 sobre o Noroeste, no Mário Alves Mendonça, pelo Paulistão.
Em 4 de novembro, João Jorge perdoou Fogosa e os jogadores pediram a sua reintegração ao elenco. Após 18 dias afastado, ele voltou a treinar e acabou apenas multado. No entanto, o técnico Conrado Ross manteve Martin Mansano na zaga e o deixou fora do time.
Cambaleante no campeonato, o América foi para o triangular da morte, junto com Juventus e Corinthians de Prudente. A diretoria demitiu Conrado Ross e trouxe João Avelino, que voltou a escalar Fogosa no domingo, dia 8 de janeiro de 1961, na derrota de 2 a 0 para o Juventus, na abertura do rebolo. Foi a última vez que Fogosa vestiu a camisa vermelhinha.
Perdeu espaço e ficou fora das derrotas para Corinthians Prudentino (4 a 1) e Juventus (2 a 1) e no empate de 1 a 1 contra o Corintinha. Os resultados provocaram o rebaixamento do Rubro à Segundona.
Magoado com a diretoria, foi para a Ferroviária
Vinculado ao América, o zagueiro ficou encostado durante oito meses após o rebaixamento para a Segundona e a diretoria não o liberava para ninguém. Depois de muito insistir, a Ferroviária conseguiu levá-lo. Estreou na equipe de Araraquara no domingo, dia 1º de outubro de 1961, na vitória sobre o Bandeirantes de São Carlos por 3 a 1, num amistoso, substituindo Antoninho, titular da posição e que depois foi para o Palmeiras.
Na época, Fogosa não escondeu a mágoa que sentiu dos dirigentes do América. “Sempre servi o clube com dedicação. Lutei com amor pela camisa vermelha, porém, a diretoria me castigou duramente e fez de tudo para me prejudicar”, disse.
Já decadente, em razão do alcoolismo, Fogosa teve vida curta na Ferroviária e retornou a Rio Preto no início de 1962. “Internaram ele durante um mês no Bezerra de Menezes para recuperá-lo. Ele ficou forte e voltou a jogar”, informa Agostinho Brandi.
Casado e pai de uma menina, Fogosa acertou com o Rio Preto, mas disputou apenas alguns amistosos pelo clube esmeraldino. Retornou a Patos de Minas, arrumou emprego na Adeng (Administrações do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte) e trabalhava no estádio Mineirão.
Em meados da década de 1980 surgiu um boato de que ele havia morrido. Na época, esteve em Rio Preto, concedeu entrevista ao Diário e saiu com esta pérola: “Todo preto antigamente parecia com o Pelé. E todo pretinho que sabia jogar bola parecia com o Fogosa. Então, há diversos Fogosas. Morreu o Fogosinha e pensaram que fosse eu.” O ex-zagueiro do América, no entanto, morreu alguns anos depois.
Fotos: Arquivo pessoal de Rui Guimarães