Vigoroso, porém leal, o zagueiro Carlos Alberto Penachio defendeu o América no Paulista da Divisão Especial (elite estadual) na temporada de 1966. Veio emprestado de graça pelo São Paulo por apenas quatro meses e chegou no final de agosto. “Dirigentes do América me viram jogar pelo Tricolor no Torneio Laudo Natel e se interessaram pela minha contratação”, recorda. O deputado e diretor são-paulino Paulo Planet Buarque o incentivou a trocar de clube. “Como eu era jovem, o doutor Paulo me convenceu de que minhas chances seriam maiores no América”, diz.
No time rio-pretense, ele também tinha forte concorrência com Bertolino, Ambrózio, Nelson Coruja, Tubá e Café. “O América pagava bem e em dia”, afirma Penachio, que chegou fora de forma e precisou de alguns dias para se condicionar fisicamente antes de ficar à disposição do técnico Rubens Minelli. “O Minelli foi uma pessoa fantástica na minha vida. Ele me ensinou muito”, diz. O becão ficou fora da derrota de 1 a 0 para a Portuguesa, no estádio Nicolau Alayon, em São Paulo, no domingo, dia 4 de setembro.
O Rubro se reabilitou com uma goleada de 5 a 3 sobre o Botafogo, de Ribeirão Preto, no estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, no feriado de 7 de setembro, mas Penachio novamente ficou de fora. Sem justificativa, o zagueiro Mota não apareceu para treinar na segunda-feira, dia 12, e acabou punido pela comissão técnica. Assim, abriu brecha para a estreia de Penachio contra o São Bento, na quarta-feira, dia 14, em Sorocaba. O time sorocabano venceu por 1 a 0, gol marcado pelo meia Almir, aos 16 minutos do primeiro tempo. Penachio teve boa atuação e o resultado foi considerado injusto pela imprensa da época.
Ele ficou fora da derrota de 2 a 1 para o Palmeiras, em Rio Preto, na rodada seguinte, mas depois jogou nos 2 a 0 diante da Portuguesa Santista e na derrota de 3 a 0 para o Bragantino, fora de casa. Penachio ainda esteve em ação nos triunfos sobre o Guarani (4 a 1), Bragantino (1 a 0) e São Bento (2 a 0) e nas derrotas para Botafogo (6 a 2) e Santos (2 a 1). O jogo na Vila Belmiro, no dia 14 de dezembro, marcou a despedida dele com a camisa americana. Depois da chegada de Penachio, o América disputou 21 partidas. Ele esteve em campo em oito, com quatro vitórias, quatro derrotas, 12 gols marcados pelo Rubro e 13 sofridos.
América 4 X 1 Guarani - 5 de outubro de 1966
Ficha técnica:
América
Reis; Café, Penachio e Benedicto Ambrózio; Mota e Nelson Coruja; J. Alves, Milton, Gildo, Marco Aurélio e Caravetti. Técnico: Rubens Minelli.
Guarani
Dimas; Deleu, Paulo e Tarciso; Edu e Bidon; Joãozinho, Nelsinho, Américo Murolo, Nenê e Carlinhos. Técnico: Ady Zachia.
Gols: J. Alves aos 8 minutos do 1º tempo. Gildo aos 16 e aos 36, Américo Murolo aos 20 e Milton aos 34 minutos do 2º tempo. Árbitro: Carmelito Voi. Renda: Cr$ 1,790 milhão. Público: 1.642 pagantes. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, na quarta-feira, dia 5 de outubro de 1966, pelo Paulistão, na terceira partida de Penachio pelo Rubro.
Santos 2 X 1 América - 14 de dezembro de 1966
Ficha técnica:
Santos
Cláudio; Orlando e Mauro Ramos de Oliveira; Lima, Joel e Zé Carlos; Dorval, Mengálvio, Toninho Guerreiro, Amauri e Pepe. Técnico: Luiz ‘Lula’ Alonso.
América
Neuri Cordeiro; Café e Penachio; Nildon, Manoel e Tubá; Arcanjo, Raul, Cabinho, Waltinho Rossetto e Marco Aurélio. Técnico: Rubens Minelli.
Gols: Dorval aos 24 minutos do primeiro tempo. Marco Aurélio aos 10 e Dorval aos 44 minutos do segundo tempo. Árbitro: José Astolphi. Renda: Cr$ 2,103 milhões. Público: 1.515 pagantes. Local: estádio da Vila Belmiro, em Santos, na quarta-feira, dia 14 de dezembro de 1966, pelo Paulistão, na última partida de Penachio pelo América.
Começou no São Paulo e parou no Uberaba
Nascido em Santo André, no dia 28 de fevereiro de 1946, Carlos Alberto Penachio começou a jogar futebol no time amador do Senai em 1961. O engenheiro químico Fernando, um ex-goleiro do São Paulo, trabalhava na empresa e fez uma carta de recomendação para ele fazer testes no Tricolor. Reprovado na primeira peneira por Firmo de Melo e Pilé, Penachio não desanimou. Voltou para uma segunda avaliação e acabou aprovado por José Poy. Foi campeão infantil (sub-15) de 1963 e juvenil (sub-17) em 1964.
“Todos os meninos foram promovidos para o time aspirante”, informa. Na equipe estavam José Luiz Carbone, Zunzum, Zé Roberto Marques (que depois jogou no Corinthians) e outros. Em 1965, Penachio sofreu uma fratura no perônio da perna esquerda no empate sem gols entre São Paulo e Palmeiras pelo Paulista de Aspirantes. “Foi num choque casual com o ponta-direita Rodolfo, do Palmeiras”, lembra. Depois de longo tratamento, o zagueirão voltou a jogar na temporada seguinte ao disputar o Torneio Laudo Natel, quando acabou contratado pelo América.
Após a sua passagem pelo Vermelhinho, Penachio retornou ao São Paulo. Sem oportunidades de jogar, acabou emprestado ao Uberaba, campeão do Interior e quarto colocado do Campeonato Mineiro de 1967. No ano seguinte foi vendido ao Atlético-PR. “Financeiramente foi um negócio interessante porque recebi os 15% do valor da transação (NCr$ 4,5 mil) e ganhava NCr$ 900 por mês de salários.” O Furacão paranaense contava com os experientes Djalma Santos, Dorval, Del Vechio, Belini e Zequinha. “A diretoria não teve dinheiro para manter o elenco e houve um desmanche”, relembra. Penachio voltou ao Uberaba e pendurou a chuteira precocemente após a temporada de 1970, aos 24 anos.
São Paulo 0 X 0 América - 6 de setembro de 1964
Ficha técnica:
São Paulo
Suli; Deleu, Penachio e Riberto; Roberto Dias e Jurandir; Faustino, Marco Antonio, Del Vechio, Bazaninho e Agenor. Técnico: Oto Vieira.
América
Reis; Bertolino, Santo e Ambrózio; Victor e Mota; J. Alves, Celino, Valter Carioca, Waltinho Rossetto e Cuca. Técnico: Rubens Minelli.
Árbitro: Airton Vieira de Morais. Renda: Cr$ 1,906 milhão. Público: 3.072 pagantes. Local: estádio do Morumbi, em São Paulo, no domingo, dia 6 de setembro de 1964, pelo Campeonato Paulista, com Penachio defendendo o Tricolor.
Ainda na ativa
Formado em mecânica industrial pela escola técnica Paulo de Tarso, de Santo André, Penachio começou a trabalhar na Mercedes Benz como técnico de metrologia industrial. Depois foi mestre de seção. Aposentou-se no final de 1989, mas continuou trabalhando. Prestou serviços como supervisor de produção na Engrecon, em Santana de Parnaíba, na Cestare e na Ítalo Lanfred, ambas de Monte Alto, e na Essey, de Salto. Ainda auxilia a empresa de importação, exportação e logística, do filho Renato. Casado há 52 anos com Guiomar, além de Renato, Penachio é pai de Cristhiane e Júnior, e avô de Patrício, Pedro, Murilo, Thiago e Caio. Ele mora no bairro Assunção, em São Bernardo do Campo.