O meia Adriano Gerlin da Silva jogou apenas cinco meses no América. Mas o período foi suficiente para ele cravar seu nome na história do clube ao marcar o primeiro gol do Vermelhinho no estádio Teixeirão, em Rio Preto. No total, ele balançou as redes adversárias 12 vezes em 25 jogos do Paulistão de 1996. Com uma bola parada quase perfeita, o talentoso armador foi o artilheiro do time rio-pretense na competição, com nove tentos a menos do que o santista Giovanni, o “Messias da Vila”.
Emprestado de graça ao América por cinco meses pelo Neuchatel Xamax, da Suíça, Adriano se apresentou ao técnico Julio Cesar Leal na segunda-feira, dia 15 de janeiro de 1996. Como a transferência era internacional e não havia tanta tecnologia como hoje, sua documentação demorou a ser regularizada na Federação Paulista de Futebol.
Assim, ele ficou fora do Torneio Início (o América ficou em terceiro lugar, atrás de Portuguesa e Rio Branco de Americana). Também desfalcou o Vermelhinho nas quatro primeiras rodadas do Estadual - empate sem gols com o Novorizontino, vitória de 3 a 2 sobre o União São João de Araras, e derrotas para Juventus e Mogi Mirim (ambas por 1 a 0).
Com a papelada em dia, Adriano ficou à disposição para a partida contra o São Paulo, na inauguração do Teixeirão, no sábado, dia 10 de fevereiro, mas começou na reserva. O centroavante Valdir Bigode abriu o placar para o Tricolor, aos 41 minutos do primeiro tempo.
Adriano entrou no intervalo e precisou de 11 minutos para igualar o marcador, ao exibir o seu cartão-postal com uma cobrança de falta espetacular, surpreendendo o goleiro Zetti. Na comemoração, o “efeito dominó”, que havia combinado com os companheiros durante os treinos recreativos e na concentração.
Sandoval recolocou o São Paulo na frente, James empatou novamente, mas o inspirado Sandoval fez o gol da vitória de 3 a 2 da equipe são-paulina, aos 44 minutos do segundo tempo. “O América era um time de muita qualidade no meio-campo, rápido na frente e com uma defesa sólida”, recorda Adriano.
Com ele em campo, o Rubro obteve nove vitórias, sete empates e sofreu nove derrotas. Resultados que serviram para assegurar ao time rio-pretense o 9º lugar entre os 16 participantes do Paulistão. A despedida dele foi na derrota de 2 a 0 para o Rio Branco, em Americana, na quarta-feira, dia 5 de junho, pela última rodada do estadual. Ele foi substituído por Berg aos 30 minutos de segundo tempo.
América 3 X 3 Corinthians - 24 de fevereiro de 1996
Ficha técnica:
América
Neneca; Carlão, Leonardo, Denilson e Vanderlei Jacomin; Negão, João Lima, Adriano e Berg (Pedrinho); Sérgio Araújo (Douglas) e James (Cacaio). Técnico: Julio Cesar Leal.
Corinthians
Ronaldo; Carlos Roberto, Célio Silva, Henrique e Sylvinho; Júlio Cesar, Bernardo, Marcelinho e Leônidas (Robson) (João Paulo); Edmundo e Tupãzinho (André Santos). Técnico: Eduardo Amorim.
Gols: Célio Silva (contra) aos 10, Adriano aos 21, Júlio Cesar aos 26, James aos 34 e Edmundo aos 42 minutos do primeiro tempo. Marcelinho aos 34 minutos do segundo tempo. Árbitro: Dalmo Bozzano (SC). Expulsões: Bernardo e Negão. Renda: R$ 207 mil. Público: 15.267 torcedores. Local: estádio Teixeirão, em Rio Preto, no sábado, dia 24 de fevereiro de 1996, pelo Paulistão.
Dois gols na decisão do Superpaulistão de 2002
O América serviu de ponte para Adriano alavancar sua carreira novamente. Após a sua brilhante passagem pelo time rio-pretense, o criativo meio-campista chamou a atenção de dirigentes do São Paulo. Aliás, entre tantos feitos, ele havia comandado a equipe americana nos 3 a 1 impostos diante do próprio Tricolor, no Pacaembu, no sábado, dia 20 de abril, pelo returno do estadual.
Depois de algumas negociações, na segunda-feira, dia 27 de maio, a direção são-paulina concordou em pagar ao clube suíço Neuchatel Xamax US$ 1,4 milhão em sete parcelas mensais de US$ 200 mil, a partir de janeiro de 1997. Ele se apresentou ao técnico Muricy Ramalho na semana seguinte e estreou na vitória de 3 a 0 sobre o Real Madrid, da Espanha, que contava com Rincón, Fernando Redondo, Zamorano, Guti e outros.
O amistoso aconteceu na sexta-feira, dia 14 de junho, no Pacaembu. Adriano fez três gols em 18 partidas pelo São Paulo. Mas não se firmou e acabou emprestado para vários clubes. Defendeu Náutico, Atlético-MG, Sport e o japonês Urawa Reds. Retornou ao Tricolor em 2002 e foi campeão do Superpaulistão. Na final, marcou os dois primeiros gols nos 4 a 1 diante do Ituano, no Morumbi. No total, foram 25 partidas e cinco gols pela equipe são-paulina.
América 1 X 0 Santos - 9 de março de 1996
Ficha técnica:
América
Neneca; Carlão, Leonardo, Douglas e Vanderlei Jacomin; Negão, Serginho Carioca, James (João Lima) e Adriano; Serginho Fraldinha (Berg) e Agnaldo (Cacaio). Técnico: Julio Cesar Leal.
Santos
Edinho; Cláudio, Sandro, Narciso e Marcos Paulo; Alexandre Gallo, Baiano (Batista), Vagner (Macedo) e Robert; Giovanni e Clóvis (Marcelo Passos). Técnico: Candinho.
Gol: Adriano (de falta) aos 33 minutos do segundo tempo. Árbitro: José Mocellin (RS). Renda e público: não fornecidos. Local: estádio Teixeirão, em Rio Preto, no sábado, dia 9 de março de 1996, pela 10ª rodada do primeiro turno do Paulistão.
São Paulo 4 X 1 Ituano - 30 de maio de 2002
Ficha técnica:
São Paulo
Roger; Gabriel, Emerson, Jean e Lino; Maldonado, Fábio Simplício, Adriano e Lúcio Flávio (Souza); Sandro Hiroshi (Oliveira) e Reinaldo (Rafael). Técnico: Oswaldo de Oliveira.
Ituano
André Luís, Giuliano (Silvinho), Erivélton, Vinícius e Lúcio; Everaldo, Pierre, Élson e Juliano (Tita); Basílio e Fernando Gaúcho (Lelo). Técnico: Ademir Fonseca.
Gols: Adriano aos 18 (de falta) e aos 43 minutos do primeiro tempo. Reinaldo aos 21, Sandro Hiroshi aos 24 e Basílio aos 31 minutos do segundo tempo. Árbitro: Paulo César de Oliveira. Renda e público: não obtidos. Local: Morumbi, em São Paulo, no domingo, dia 30 de maio de 2002, na decisão do Superpaulistão.
Craque do Mundial Sub-17 na Itália em 1991
Nascido em Dracena, no dia 29 de setembro de 1974, Adriano Gerlin da Silva foi para as categorias de base do Guarani aos 11 anos de idade. “Disputei um campeonato por Dracena em Rio Claro. Fui bem, Corinthians, Palmeiras e São Paulo me queriam, mas optei pelo Guarani, que na época tinha uma ótima estrutura nas categorias de base”, informa. Passou a ser convocado para a Seleção Brasileira Sub-15.
Em 1991, na Itália, ele foi eleito o melhor jogador do Mundial Sub-17 e o artilheiro do Brasil na competição, com quatro gols. Um deles, foi o mais bonito da sua carreira, nos 2 a 0 sobre a Alemanha. “Driblei quatro adversários antes de marcar”, recorda. Depois, a Seleção fez 4 a 0 nos Emirados Árabes Unidos, 1 a 0 no Sudão e foi eliminado nas quartas de final, ao perder de Gana por 2 a 1. A seleção africana foi campeã ao bater a Espanha na final.
Gol de placa e campeão
No Mundial Sub-20 de 1993, na Austrália, Adriano voltou a marcar quatro gols pelo time brasileiro e foi novamente eleito o melhor jogador do campeonato. Ele comandou a Seleção na conquista do título. O Brasil estreou com empate sem gols diante da Arábia Saudita, venceu México (2 a 1) e Noruega (2 a 0), Estados Unidos (3 a 0), Austrália (2 a 1) e na final deu o troco em Gana ao ganhar por 2 a 1. Adriano foi vendido do Guarani ao Neuchatel por US$ 1 milhão.
Fez sete gols em 22 jogos pelo time suíço. Sofreu com o frio e retornou ao Brasil para defender o Botafogo-RJ. Jogou ainda no Juventude-RS, Bahia, Portuguesa Santista, Pogón da Polônia, Bragantino, CRB, Atlético Nacional de Medellín (Colômbia) e pendurou a chuteira em 2009, no Oeste Paulista, atual Grêmio Prudente, que ele fundou em Presidente Prudente e hoje diz ter 20% das ações do clube. Separado judicialmente, Adriano é pai de Ana Lívia, de 10 anos, e mora em Dracena. Ele possui duas escolinhas de futebol, uma na sua cidade natal, e outra em Pacaembu. As unidades atendem crianças e adolescentes de 5 a 17 anos.