O América disputou apenas duas vezes a elite do Campeonato Brasileiro. A primeira ocorreu em 1978, após superar XV de Piracicaba e Noroeste no Torneio Seletivo Paulista. E a segunda, em 1980, depois de faturar o título da Taça de Prata, equivalente à Série B de hoje.
E quem teve o privilégio de marcar o primeiro gol da equipe rio-pretense na principal competição do futebol nacional foi o centroavante Paulo Casar Donega, uma das gratas revelações do clube na década de 1970. A façanha aconteceu na goleada de 3 a 0 sobre o Flamengo do Piauí, na estreia, ocorrida no dia 26 de março de 1978, um domingo, com 7.444 torcedores no estádio Mário Alves Mendonça.
A equipe piauiense teve problemas no voo de Teresina a São Paulo e desembarcou em Rio Preto apenas na madrugada de domingo. O América aproveitou o cansaço do adversário para começar bem a sua participação no Grupo E. Na época, o vencedor somava dois pontos e tinha mais um de bonificação caso o triunfo fosse por três ou mais gols.
Paulo Casar Donega abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo ao chutar rasteiro no canto esquerdo do goleiro Hindemburgo, após boa troca de passes do ataque. O zagueiro Zico ampliou para 2 a 0 e Donega fechou a conta, aos 26 da etapa final, aproveitando rebote do goleiro adversário. Empolgado com a brilhante atuação, o artilheiro jogou a camisa para a galera.
Ele precisou superar algumas barreiras para cravar seu nome na história do Rubro. O titular da camisa 9 era o intocável Luis Fernando Gaúcho, que sofrera uma contusão no joelho direito no início da temporada. Donega tinha disputado a Taça São Paulo de Juniores (sub-20). O Vermelhinho foi eliminado na primeira fase no Grupo 4, que contava também com Fluminense, Inter-RS e São Paulo.
O maior feito foi ter vencido o time gaúcho por 1 a 0, gol de Luiz Vieira, na última rodada. Antes, perdera de 1 a 0 para os cariocas e de 4 a 2 para o tricolor paulista, com um dos gols do matador americano.
Com a contusão de Luis Fernando, o técnico Orlando Peçanha escalou Donega em jogos amistosos. Com personalidade, ele deixou sua marca no empate de 1 a 1 com o Botafogo de Sócrates e companhia, e também na vitória de 2 a 1 sobre a Portuguesa, no Canindé, abrindo a contagem.
Com a moral em alta, foi mantido no comando do ataque no Brasileirão. Depois da excelente estreia diante do Flamengo do Piauí, Donega prometeu o "gol galera" contra o Sampaio Correa, também no Mário Alves Mendonça. Não cumpriu a promessa, mas sofreu o pênalti que originou o segundo tento na vitória por 2 a 1.
Na terceira rodada, praticamente dono da posição, ele sofreu uma contusão no tornozelo direito, na derrota de 2 a 0 para o Ceará, no estádio Castelão, em Fortareza. Luis Fernando ainda não havia se restabelecido e Orlando Peçanha improvisou o ponta-direita Arlen como centroavante.
Donega não participou das partidas seguintes e, quando se recuperou da lesão, Luis Fernando estava arrebentando. Insatisfeito com a reserva, o artilheiro promissor forçou sua saída e acabou emprestado ao América, do Rio de Janeiro.
Atuou na fase final do Paulistão de 75
Antes de entrar para a história como o autor do primeiro gol do América na elite do Campeonato Brasileiro, Paulo Cesar Donega também fez parte da memorável campanha no Paulistão de 1975, aos 17 anos de idade. O Rubro ficou em terceiro lugar e só não disputou a final com o São Paulo por ter sido garfado pelo árbitro Roberto Nunes Morgado, no empate de 1 a 1 com a Portuguesa, no Pacaembu.
"Fui promovido do juvenil para o profissional pelo Urubatão (Calvo Nunes, treinador) nas finais daquele campeonato", recorda. Segundo Donega, o elenco possuía 12 jogadores profissionais e 10 amadores. "Era o time mais jovem e mais barato do campeonato."
Donega lembra algumas passagens marcantes. "Contra o Corinthians, entrei no lugar do Wilson Luiz (Bocão) e chutei uma bola na trave. Depois, vencemos o Santos por 2 a 1, no Pacaembu."
Vice no estadual sub-20
Nascido em Rio Preto no dia 6 de dezembro de 1957, Paulo Cesar Donega deu os primeiros chutes no time varzeano do Pandim. Em 1972, o técnico Francisco Rosati, do dente-de-leite do América, o levou para treinar com a molecada na Vila Santa Cruz.
Ganhou vários títulos nas categorias de base e chegou a ser convocado pela seleção paulista de novos para uma excursão ao exterior em 1976. "Às vésperas da viagem, a federação trocou o treinador e eu acabei não indo."
Já em 1977, com atuações esporádicas entre os profissionais, Donega ajudou o time sub-20 a ser vice-campeão paulista da categoria. Na final, ele marcou o gol do América na derrota de 3 a 1 para o Palmeiras, no Parque Antártica, no dia 11 de setembro.
Mardoni, Adauto e Ézio fizeram para o Verdão, que atuou com Zé Luis; Sotter (Antônio Carlos), Edson, Valdemir e Valdevar; Mococa, Adauto e Silvio; Vivinho, Mardoni e Ezio (André). O Rubro formou com Luiz Otávio, Gilson (Maurício), Ademir Cáceres, Luiz Vieira e Adalberto; Beline, Beto Rocha e Marcelo; Dondinha (Tonioli), Paulo Casar Donega e Silvinho.
Campeão potiguar e do Maranhão
Depois de dedicar seis anos de sua vida ao América (1972/78), Paulo Casar Donega foi emprestado ao América, do Rio de Janeiro. Ele não se esquece de um jogo contra o Flamengo, de Zico, Cláudio Adão, Júnior e outros craques. "Ganhávamos por 2 a 0, mas não suportamos a pressão e sofremos o empate (2 a 2) no final."
Em 1980, ele foi campeão potiguar pelo América, de Natal, e artilheiro do campeonato, com 17 gols. Jogou com o zagueiro Joel Santana (atual treinador do Botafogo, do Rio) e o meia Fito Neves (técnico que já dirigiu Vitória, Coritiba e outros clubes).
O América o queria, mas Donega não aceitou voltar. "Santo de casa não faz milagre e em Natal eu era ídolo", justificou. No final de 1980, foi para o Cascavel, do Paraná, numa troca como centroavante Paulinho CascaveL "Nem cheguei a jogar lá. O clube paranaense vacilou e eu peguei meu passe na federação."
Dono do próprio nariz, Donega acertou com o Ferroviário, do Ceará. Foi três vezes vice-artilheiro do campeonato cearense e três vezes vice-campeão estadual (de 1981 a 1984). Concluiu o curso de ciências econômicas na Universidade Federal de Fortaleza.
No segundo semestre de 1984, ele foi campeão maranhense pelo Sampaio Correa. Jogou ainda no Vitória da Conquista e Leônico, ambos da Bahia. Em julho de 1986, transferiu-se para o Belenenses, de Portugal. Na temporada seguinte, foi para o Clermont Ferron, que estava caindo da Segunda para a Terceira Divisão da França. "Fiz vários gols e consegui evitar o rebaixamento da equipe", diz.
Pendurou a chuteira em 1991. Fez faculdade de educação física na França e um curso de treinador de futebol. Hoje, é funcionário público do governo francês. Há 15 anos, mora com a mulher Nadine, e os filhos Jéssica, Paula Bianca e Diego Tony em Albert Ville, cidade de 20 mil habitantes localizada nos alpes franceses, entre a Itália e a Suíça. "Estou na França há 24 anos e venho a Rio Preto em todas as minhas férias para ver minha família", afirma.