América Futebol Clube

Nas três últimas edições, o Flash Bola contou a história do estádio Mário Alves Mendonça - primeiro patrimônio do América -, desde a aquisi­ção da área por parte da direto­ria até a sua desapropriação pe­la Prefeitura de Rio Preto e de­molição para dar lugar a um hipermercado. Dando sequência ao processo transitó­rio, hoje a coluna resume a sa­ga do clube para ter sua nova morada, o estádio Teixeirão, que atingirá a maioridade jus­tamente amanhã, quando com­pleta 18 anos de inauguração. Tudo começou em uma vi­sita do presidente Benedito Teixeira e alguns dirigentes ao prefeito Wilson Romano Calil.  Com a sacolinha em punho, a "comitiva" foi pedir uma aju­da financeira ao chefe do exe­cutivo para realizar melhorias no MAM. Ao invés de prome­ter colaborar, Calil sugeriu a construção de uma praça de es­portes, mais ampla e moderna. O ex-prefeito se recorda da transação como se fosse hoje. "Eu tinha comprado um terre­no grande do Geraldo Bordon (dono de frigorífico) para lo­tear com o nome de Jardim Bordon", diz. "No meio da área havia um buracão enor­me, que os engenheiros descar­taram. Não tinha o que fazer ali. Na primeira vez que fui lá eu vi o buraco como um campo de futebol", informa Calil, que assistiu apenas dois jogos no es­tádio Mário Alves Mendonça e outros dois no Teixeirão. "Não me lembro os adversários." Cartolas americanos aceita­ram a proposta sem pestanejar. Aprovada pela Câmara Munici­pal, a lei 1.911, de 30 de junho de de 1975 homologou a doação de 43 mil metros quadrados ao clube, com algumas restrições. Entre elas, se houvesse a dissolvição da agremiação, o patrimônio voltaria para a Prefei­tura. Além disso, o municí­pio poderia utlizá-lo dez vezes ao ano em datas cívicas ou come­morativas. Também constou que as obras deveriam ser iniciadas em até 90 dias após a doação e a conclusão teria que ocorrer no prazo máximo de oito anos.

De acordo com dados for­necidos por Luiz Carlos Jorda­ni, conselheiro vitalício e dire­tor de futebol na época, o 1° cartório registrou a escritura de doação no dia 5 de novembro de 1976, com valor de Cr$ 258 mil. Em êxtase pela aquisi­ção do terreno, a diretoria fez o lançamento da pedra funda­mental dois dias depois, com direito a convite personaliza­do a autoridades da cidade.

Dirigentes convidaram o en­genheiro Lino Seixas, dono da Hopase Construtora, para viabilizar o projeto. Acompanhado de outros profissionais da área, Seixas visitou várias arenas na Itália. Ficou fascinado pelo está­dio San Paolo, de Nápoles, e de­cidiu usá-lo como modelo. No entanto, para executar o projeto, os 43 mil metros quadrados eram insuficientes. Por isso, o América pediu e o prefeito Adail Vetorazzo concordou em doar mais 16.440 metros quadrados (área arre­matada em leilão em junho de 2009). A cessão foi homologa­da pela lei 2.242, de 9 de ju­nho de 1978, com escritura la­vrada em 13 de maio de 1982.

Início da obra se deu com a venda de Luís Fernando Gaúcho

Como o clube estava sem dinheiro, o "start" para a construção só foi possível com a venda do centroavan­te Luís Fernando Gaúcho, em 1980, para o América do México por US$ 300 mil (R$ 723 mil na conversão atual). A diretoria decidiu investir toda grana no novo estádio.

Para baratear os custos, o engenheiro Lino Seixas criou uma fórmula especial que não usava madeiras pa­ra erguer a arquibancada. Os operários formatavam os degraus nos barrancos e jogavam o concreto em ci­ma. "A invenção do Lino foi feita em 80% das acomo­dações e isso nos proporcio­nou uma economia muito grande", diz o conselheiro Luiz Carlos Jordani.

Segundo ele, os governa­dores José Maria Marin (atual presidente da CBF), Paulo Maluf, Orestes Quér­cia e Luiz Antônio Fleury Fi­lho também muito contribuí­ram. "Maluf e Marin doaram parte da terraplanagem, o Quércia e o Fleury colabora­ram com Cr$ 650 mil para a iluminação", informa. Jorda­ni e José Villanova Sobrinho foram responsáveis pelo pla­nejamento e execução. Osval­do Graciani liderou um gru­po que cuidou do gramado.

Os prefeitos Roberto Lo­pes de Souza e Toninho Fi­gueiredo, de acordo com Jor­dani, cederam toda tubula­ção para canalização e escoa­mento do córrego Fuscaldo. Ele diz que o empresário Jo­sé Ermírio de Moraes doou 5 mil sacos de cimento, o ex-governador Laudo Notei co­laborou com tijolos e J. Ha­willa entrou com outros US$ 100 mil (R$ 240 mil).

Amigo do presidente Be­nedito Teixeira, o deputado federal Nabi Abi Chedid tam­bém participou do processo, na época em que ocupava a vice-presidência da Federa­ção Paulista de Futebol.  Além de todas as doações, a diretoria também realizou campanhas para angariar fundos. 

Inaugurado sob intensa pressão

Como o juiz Emílio Mi­gliano Neto interditou 70% da capacidade do estádio Mário Alves Mendonça no final de 1995, a diretoria do América recebeu o apoio da Federação Paulista de Fute­bol, que emprestou R$ 400 mil, para tentar concluir o Teixeirão. Porém, a pressão da Justiça e da FPF eram in­tensas. O presidente da enti­dade, Eduardo José Farah, exigiu que o novo estádio fosse inaugurado em 38 dias e passasse a ser utilizado a partir do Paulistão de 1996.

Pedro Batista, então pre­sidente do Rubro, diz que o clube arrecadou mais R$ 220 mil com uma campa­nha junto aos proprietários de camarotes e cadeiras cati­vas. "Com esses R$ 620 mil nós fizemos as bilheterias, cabines de imprensa impro­visadas e concluímos os vestiários", destaca Batista.

Cerca de 300 operários trabalharam diuturnamen­te como formiguinhas. Em princípio, a diretoria teria que quitar o empréstimo com a FPF em quatro par­celas mensais de R$ 100 mil cada, mas o pagamento foi feito em suaves presta­ções com 10% de rendas de jogos realizados no local.

Mesmo com investi­mento estimado em US$ 30 milhões (R$ 72,3 milhões), o estádio foi aberto ao público inacabado. Faltou, e falta até hoje, cobertura, cabines de imprensa, camarotes e boa parte das cativas.  Com 17.585 torcedores, o Améri­ca inaugurou sua casa no sá­bado, dia 10 de fevereiro de 1996, com derrota de 3 a 2 para o São Paulo, pelo Paulistão. Depois da inau­guração, o Rubro mudou de casa em definitivo em setembro de 1997, deixan­do o Mário Alves Men­donça e transferindo sua sede para o Teixeirão.

Bingos lotavam o estádio e garantiam receita

Amparado pela Lei Pelé, o América pas­sou a promover mensalmente, em parceria com o empresário Salvador Correia da Sil­va, os bingos de campo, que lotavam o Teixeirão. Somente nos dois primeiros anos, o evento distribuiu 240 veículos, no valor total de R$ 4,227 milhões. Em 1999, o empresário foi assassinado e os bingos min­guaram. "Na verdade, os bingos já estavam em uma fase decadente. Tanto que planejá­vamos transferi-los do campo para a TV", informa o conselheiro Pedro Batista. Batista presidiu o América de 1996 a 2002 e se orgulha de ter ocupado o cargo na inaugura­ção do Teixeirão. "E uma satisfação dobrada porque contou com empenho e suor de muitos e até hoje é a maior obra de São José do Rio Preto", destaca.