O volante Berguinho era rigoroso na marcação, tinha bom passe de média e longa distância e, às vezes, chegava com perigo na área adversária. Discreto, evitava cometer faltas - só quando eram extremamente necessárias. Aparecia pouco para a torcida, mas era fundamental no esquema tático.
Assim, começou a carreira em times amadores do interior de Minas Gerais. Atuou no amador e em alguns jogos do profissional do América de Rio Preto. Depois, também defendeu Apucarana-PR, Gran São João de Limeira, XV de Piracicaba, Olímpia, Botafogo de Ribeirão Preto, XV de Jaú, Mourãoense de Campo Mourão-PR, Uberaba e Batatais.
Nascido no dia 15 de maio de 1941, em Pirajuba, na região de Frutal-MG, a 170 quilômetros de Rio Preto, Lindembergue Mendonça Cacia diz que, na infância, detestava futebol. "Ganhei uma bola da minha madrinha (Laudicena) e ela ardia demais quando pegava na gente", informa. "Um dia chutaram a bola numa cerca de arame e ela furou. Aí, não quis mais saber de futebol", descreve.
O reencontro com o esporte bretão só aconteceu anos mais tarde quando passou a estudar num colégio interno em Frutal. Professores o obrigaram a praticar educação física. Mesmo contrariado, começou a jogar no gol. Logo depois, o América de Frutal estava precisando de um goleiro para disputar o campeonato varzeando local. Jogou, teve boas atuações e recebeu convite para defender a equipe juvenil da cidade. Após quatro partidas, o treinador Inácio decidiu tirá-lo do gol e coloca-lo na linha.
A mudança de posição deu certo. Berguinho começou a se destacar e foi chamado por seus irmãos Edgar e Ordevan para atuar pelo XV de Novembro. Após cinco jogos, o barbeiro Zazada o indicou para os amigos Ivan Miziara e João Leite, diretores do América. "O Bulau e o Dego (ambos armadores) também foram, mas só eu fiquei", recorda. Atuou no amador com o ponta-esquerda Dirceu, o lateral esquerdo Fogueira, o goleiro Mané Mesquita, entre outros.
Estudava no Colégio Dom Pedro 2° na época do acidente que provocou a morte de 59 alunos, integrantes da fanfarra, em agosto de 1960. "Eu não tocava, mas ia acompanhar o pessoal até Barretos", diz. "Porém, o diretor não deixou eu ir", acrescenta. "Perdi muitos amigos na tragédia, inclusive o Andi (Hildebrando Rodrigues da Silva), que também jogava no América."
Apesar do abalo, deu sequência à sua carreira e foi promovido pelo técnico Tininho ao time profissional. Estreou no amistoso contra o Catanduvense, numa quarta-feira à noite, no estádio Mário Alves Mendonça. "Vim da roça, a iluminação era fraca, eu não via nada", recorda, admitindo que teve fraca atuação.
Campeão em Olimpia e Limeira
Depois de poucas partidas na equipe principal do América, Berguinho recebeu uma proposta da Prudentina. A princípio, a direção americana não quis liberá-lo, porém acabou permitindo a sua saída. Treinou e jogou no time de Presidente Prudente, mas não acertou as bases salariais e foi para o Apucarana-PR. Retornou ao futebol paulista em 1962 para defender o Gran São João de Limeira, comandado pelo treinador Gilson Silva. "Fomos campeões da nossa série na Segunda Divisão (atual A-3)", informa. "Fiz um belo campeonato e fui contratado pelo XV de Piracicaba."
Entretanto, a passagem de Berguinho pelo time piracicabano foi meteórica. Ele estreou no empate de 2 a 2 com a Ponte Preta, em amistoso realizado no dia 10 de março de 1963. Também atuou na goleada de 5 a 0 sobre a seleção de Mato Grosso e nas derrotas para o São Bento de Sorocaba e Ponte Preta, ambas por 3 a 1. “Fiquei sem receber salários, discuti com o presidente (Romeu Ítalo Ripoli) e fui embora”, relata.
Seu destino, então, foi o Olímpia. Apresentou-se no Galo Azul, que fez uma bela campanha e foi campeão da Série C do Campeonato Paulista da Segundona (A3 e hoje) ao superar Gran São João de Limeira, Votuporanguense, Orlândia, Bandeirantes de São Carlos, Inter de Bebedouro, Igarapava e Ituveravense.
Antes da fase decisiva, contra os vencedores dos outros grupos, o presidente Joaquim Pinheiro vendeu Berguinho, o meia Rubinho e o ponta esquerda Gaze para o Botafogo. O time olimpiense perdeu sua espinha dorsal e acabou eliminado. A negociação entre Olímpia e Botafogo foi concretizada no dia 22 de novembro de 1963. “Não esqueço porque foi no mesmo dia que mataram o presidente John Kennedy”, explica.
Passagens pelo Botafogo e XV de Piracicaba
Com o Botafogo, Berguinho excursionou para Honduras, México, Costa Rica e Colômbia, em 1964, e foi campeão do Pentagonal Mexicano. Ele marcou o primeiro gol da excursão na vitória de 5 a 1 sobre o Saprissa, da Costa Rica, no dia 2 de fevereiro, em Vera Cruz. A equipe de Ribeirão Preto ganhou a taça "Copa Corona Extra", de prata, que está num lugar especial na galeria do clube. No geral, durante a excursão, foram nove vitórias, três empates e duas derrotas, com 33 gols marcados e 16 sofridos.
Berguinho ainda disputou a Segunda Divisão de 1965 pelo XV de Jaú, treinou um mês no Palmeiras e ficou em avaliação na Portuguesa pelo mesmo período, mas foi reprovado nas duas ocasiões. Então, o treinador Mairiporã, ex-centroavante botafoguense, o levou para o Apucarana-PR. "Vim para ficar seis meses e estou até hoje aqui na cidade paranaense", informa. Jogou cinco anos no Apucarana e depois no Mourãoense, de Campo Mourão, onde pendurou a chuteira em 1972, aos 31 anos.
Arrumou emprego na Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). Trabalhou 14 anos e saiu para montar sua própria empresa. Formou-se na Faculdade de Ciências Econômicas e fez cursos sobre eletricidade. Aposentou-se há três anos, mas continua trabalhando como técnico em eletricidade.
Casou-se em 1965 com Maria Lúcia Bassett, de Rio Preto. "De Ribeirão Preto vieram para o casamento duas peruas chevrolet lotadas com os meus amigos do Botafogo", relembra. "Eu e minha esposa estamos juntos há 46 anos", acrescenta. O casal, que mora em Apucarana, teve os filhos Júnior, Alexandre e Luciano e os netos Caio, Filipe e Lara.