Um atleta com espírito de liderança, vencedor na carreira e que atuou em grandes clubes como Grêmio de Porto Alegre e Sport Recife também deixou sua marca no América de Rio Preto em 1977. Trata-se do meio-campista Cacau, que iniciou a carreira como volante, mas também atuou como armador. Gaúcho de Pelotas, Cláudio Djair Barbosa ganhou o apelido ainda garoto. "O frio sempre foi rigoroso no Sul, então, eu passava manteiga de cacau o dia inteiro para evitar rachaduras nos lábios. Uma vizinha nossa, a dona Maria, descobriu e começou a me chamar de Cacau", informa.
Ele veio para o Rubro indicado pelo técnico Rubens Minelli, que havia conquistado o bi-campeonato brasileiro pelo Inter-RS e tinha bastante influência com dirigentes americanos. Na época, atuava no Sport Recife, que estava interessado no ponta-esquerda Darci, do América. O time pernambucano cedeu Cacau e mais Cr$ 300 mil em três parcelas mensais em troca do ponteiro.
O reforço chegou em Rio Preto no dia 1° de fevereiro de 1977, um dia depois da apresentação do centroavante Luis Fernando Gaúcho. Assinou contrato de um ano com salários mensais de Cr$ 15 mil. Sua documentação não ficou pronta para a primeira rodada do Campeonato Paulista, domingo, dia 6 de fevereiro. Assim, desfalcou o time na derrota de 3 a 0 para a Portuguesa, no Canindé. Estreou na derrota de 1 a 0 para a Portuguesa Santista, em Santos, sete dias depois, ao entrar no lugar do centroavante Iaúca. O resultado provocou a demissão do técnico Carlito Peters, substituído do pelo supervisor Dicão Iembo. Cacau começou jogando pela primeira vez no empate de 1 a 1 com o Catanduvense, em Catanduva, em amistoso. No Paulistão, sua primeira atuação como titular foi na vitória de 1 a 0 sobre o Palmeiras, em 27 de fevereiro.
O médio-volante cravou seu nome na história no Rubro ao marcar o gol mais rápido do teste 348 da antiga loteria esportiva do dia 31 de julho de 1977. Na ocasião, o América perdeu do Corinthians por 2 a 1, em pleno estádio Mário Alves Mendonça, pelo segundo turno do estadual. Cacau abriu o placar logo aos 56 segundos. Paulinho cruzou da direita e o meio-campista pegou de sem-pulo, furando a rede do gol de Tobias. "Foi no gol das piscinas (onde havia o conjunto aquático atrás das placas de publicidade). O Tobias nem viu a bola", recorda.
O Timão empatou ainda no primeiro tempo, com o ponta-direita Vaguinho e virou o placar aos 36 minutos da etapa final, com o zagueiro Darci cobrando pênalti. Apesar da derrota, Cacau recebeu um prêmio de Cr$ 3 mil oferecido toda semana pela Caixa Econômica Federal ao autor do gol mais rápido de cada teste da loteria esportiva.
Três vitórias contra grandes
Durante sua passagem pelo América, Cacau participou dos oito confrontos contra os quatro grandes no Paulistão de 1977, com três vitórias, um empate e quatro derrotas. Nesses duelos, o Rubro marcou cinco gols e sofreu oito. Os triunfos foram diante de Palmeiras e Santos, ambos por 1 a 0, e os 2 a 0 contra o São Paulo, todos no estádio Mário Alves Mendonça. "Nosso time dificilmente era batido em casa", diz. A equipe ainda buscou um empate sem gols com o Peixe, na Vila Belmiro, no dia 9 de junho. Ele trabalhou com os técnicos Carlito Peters, Dicão Iembo e o gaúcho Chiquinho Silva Neto.
Com seu bom posicionamento em campo, desarmes e passes certeiros, Cacau ajudou o América a terminar em 11° lugar entre os 19 participantes do Paulistão. Sua última partida pelo clube foi na derrota de 2 a 1 para o São Bento, no estádio Mário Alves Mendonça, em 7 de agosto de 1977. Três dias depois ele foi emprestado até dezembro ao Sport por Cr$ 150 mil.
Jogou no Grêmio, Sport e Londrina
Cacau começou a carreira futebolística no Peñarol, time amador de Pelotas, mas com 15 anos já estava no tradicional Brasil de Pelotas. Jogou nos aspirantes e em 1972 foi promovido ao profissional pelo treinador Torino, um ex-meia-esquerda que havia atuado no Botafogo do Rio, Grêmio e outras equipes.
Dois anos depois transferiu-se para o Esportivo de Bento Gonçalves. Com ótimas atuações foi eleito pela crônica especializada o melhor jogador do Interior do Campeonato Gaúcho. "Até o Falcão (do Inter-RS) me elogiou em uma entrevista para a imprensa de Porto Alegre", recorda. "Meu bom desempenho e o endosso do melhor jogador gaúcho da época foram fundamentais para minha transferência para o Grêmio", acrescenta.
Estreou no tricolor na vitória de 1 a 0 sobre o Peñarol do Uruguai em jogo amistoso. Ficou no Grêmio entre janeiro de 1975 e agosto do ano seguinte, quando foi emprestado ao Sport. "Conquistamos o título pernambucano", diz. Com a saída do técnico Ênio Andrade, com quem havia trabalhado no Esportivo e no Grêmio, e a chegada de Cilinho, Cacau perdeu espaço no rubro-negro de Pernambuco e acabou emprestado ao América.
Retomou ao Sport após sua passagem pelo time rio-pretense, disputando a Taça de Prata, equivalente hoje ao Brasileiro da Série B. Em 1979 regressou ao Rio Grande do Sul para defender o Juventude. "Fui considerado o melhor jogador de Caxias do Sul", destaca.
Permaneceu no Juventude até o início de 1981, quando o treinador Valdyr Espinosa o levou para o Londrina. Com uma estrutura invejável, a equipe do Norte do Paraná contava com o goleiro Neneca, campeão brasileiro de 1978 pelo Guarani, o zagueiro Fernando Guisini, ex-Santos, o centroavante Paulinho Corcel, de Olímpia, o ponta-esquerda Carlos Henrique, que jogou no Flamengo e Palmeiras, entre outros. Não deu para a concorrência. Sob a batuta de Urubatão Calvo Nunes, o Londrina foi campeão paranaense de 1981.
Treinou várias equipes do RS
Com a conquista do título paranaense de 1981 pelo Londrina, Cacau recebeu várias propostas, mas decidiu voltar a Pelotas. Sua mulher, Ivanira - com quem é casado até hoje -, ficou grávida e ele assinou contrato com o Brasil. "Precisava acompanhar a gestação e o nascimento do meu filho", alega. Posteriormente foi emprestado à Inter de Limeira, do técnico Sérgio Clérice, que já formava a base do time campeão paulista de 1986. Na equipe limeirense estavam o goleiro Marcos, os zagueiros Beto Lima e Bolívar, e os volantes Elzo (que defendeu o Brasil na Copa de 1986, no México) e Salomão.
Durante sua carreira de jogador, Cacau diz ter feito cursos e se preparou para ser treinador. E a chance apareceu após seis meses de contrato com o Internacional de Santa Maria-RS. "Eu era o jogador mais experiente do time e o Tadeu Menezes (parceiro e treinador) me pediu para assumir o cargo", informa.
Ficou pouco tempo na função e, como não surgiram outras propostas, montou um mini-mercado na praia do Laranjal, em Pelotas. Depois, recebeu convite para comandar o São Borja, na fronteira com a Argentina, na Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho. Também trabalhou no Santa Cruz-RS, Esportivo de Bento, Pelotas, Brasil de Pelotas, XV de Novembro de Campo Bom e Guarani de Venâncio Aires. "No Guarani, fui considerado o melhor treinador do Rio Grande do Sul em 1995", afirma.
Há oito anos está no Grêmio. Hoje é coordenador da área recreativa, que possui 2,5 mil alunos na iniciação esportiva, e é supervisor do setor de captação. "Assisto jogos no Brasil inteiro atrás de novos craques", descreve "Tive influência nas vindas de Mário Femandes, Adilson, Carlos Eduardo, Lucas, Fernando, Rafael Carioca, entre outros", enumera. Nascido no dia 31 de agosto de 1953, ele mora no bairro da Hípica, zona sul de Porto Alegre, com a mulher Ivanira e o filho Cláudio Mendes Barbosa, que é administrador de empresas.