Como muitos garotos da região, Pedro César Gualti via no América a chance de iniciar a carreira de jogador de futebol. Até a primeira metade da década de 1990, o clube tinha uma das melhores estruturas do Interior nas categorias de base e também contava com pessoas competentes, tanto na diretória de futebol amador, como na comissão técnica.
Dirigentes e olheiros descobriam futuros craques e os treinadores lapidavam “as pedras preciosas”. Pedro Favarine, Benedicto Ambrózio e outros garimpavam jovens talentosos e os traziam para a Vila Santa Cruz. O trabalho rendia conquistas. Desde os anos 1970, o América integrava o seleto grupo de 16 participantes da Taça São Paulo de Juniores (sub-20). Foi quarto colocado na edição de 1986, vice-campeão em 1988 e campeão paulista de aspirantes em 1992.
Nos últimos anos também houve investimentos na base e alguns triunfos, como o título paulista sub-15 de 2000 e o da Taça São Paulo de 2006. Mas aí, com a ajuda de parceiros. Antigamente, o negócio era feito na raça e na dedicação.
O zagueiro Pedrinho Gualti fez parte da campanha de 1986 da Taça. Na primeira fase, a equipe americana venceu o Vila Nova-GO (1 a 0) e o Flamengo (2 a 1) e perdeu do Santo André (2 a 0). Como segundo colocado do grupo, enfrentou o Santa Cruz do Recife nas oitavas de final e ganhou por 3 a 2.
As quartas de final reservaram um encontro com o favorito Corinthians, no Pacaembu. Os meninos do Rubro não se intimidaram e despacharam o Alvinegro da competição, com uma vitória de 1 a 0, gol do meio-campista Vagner Palamin. Pedrinho saiu de campo como herói. Recebeu todos os prêmios de melhor jogador em campo concedidos pelas emissoras de rádio de Rio Preto e de São Paulo.
O Fluminense surgiu no caminho e acabou com o embalo americano, ao ganhar por 1 a 0, na semifinal. Na disputa do terceiro lugar, o time rio-pretense perdeu de 4 a 2 para o Juventus, na rua Javari.
Antes de defender o América, o zagueirão deu os primeiros chutes no time do Sissi, um abnegado do esporte e que possuía uma equipe de garotos em Bálsamo, cidade natal de Pedrinho. Ricardo, treinador dos juniores (sub-20) do Tanabi e que morava em Bálsamo, notou o bom desempenho do novato e o levou para a equipe tanabiense.
Apesar de imaturo, Pedrinho se colocava bem, tinha boa impulsão e não espanava. Bastaram alguns treinos para ser promovido por Valter Zaparolli, técnico do time principal do índio da Noroeste. Passou a integrar o elenco profissional e ficou no banco de reservas em alguns jogos durante o Campeonato Paulista da Segunda Divisão. “Minha primeira partida no time de cima foi na vitória por 2 a 0 sobre o Paulista, em Nhandeara, no aniversário da cidade”, recorda.
Zaparolli estava empolgado com a descoberta e levou o xerifão para o Marília, que naquela época disputava o Paulistão e possuía boa estrutura nas categorias de base Pedrinho estava animado com a oportunidade, mas ficou frustrado ao saber que o presidente do Tanabi, Ermenegildo Violin, havia vetado sua saída. “Foi uma grande chance que perdi na minha vida.”
Com o passar do tempo, Zaparolli deixou o clube e foi sucedido por Benedicto Ambrózio, apreciador de novos talentos. No final de 1981, Ambrózio indicou Pedrinho para o América. Permaneceu no Vermelhinho até a Taça São Paulo de 1986. Sem chances entre os profissionais, foi colocado em disponibilidade.
João Avelino, velha raposa do mundo da bola, estava trabalhando como olheiro de equipes do Centro-Oeste e o levou para o Operário de Várzea Grande, Mato Grosso, junto com o meia Toninho Macedo e o ponteiro Cidinho, por empréstimo de um ano. “Os outros dois não se adaptaram e só eu fiquei”, informa.
Mesclando jogadores experientes com alguns jovens, o time entrosou, foi campeão matogrossense e garantiu classificação para o Campeonato Brasileiro. Aí, de predador virou presa, levando uma tamancada atrás da outra. “Caímos num grupo muito difícil”, recorda. Na chave, além do Operário, estavam Santos, Cruzeiro, Atlético-MG, Guarani, Náutico, Rio Branco-ES, Bahia e Vasco.
Pendurou a chuteira aos 24 anos.
Depois da passagem pelo Operário, ao retomar para o América, o técnico Julinho Barcelos pretendia manter Pedrinho na equipe para o Paulistão. Porém, a diretória trouxe jogadores mais experientes e o treinador tinha que coloca-los para atuar.
O jornalista Brasil de Oliveira, que nas horas vagas dava uma de empresário da boleirada, viu Pedrinho jogando pelo Operário na derrota de 2 a 0 para o Guarani, em Campinas, pelo Brasileirão, e o encaminhou para o Barbarense. “Fui emprestado por um ano.”
A equipe de Santa Bárbara D’Oeste fez uma boa campanha na Segunda Divisão e a Inter de Limeira, que estava no auge, cresceu o olho no beque promissor. O time limeirense havia conquistado o título do Paulistão no ano anterior e integrava a elite do futebol nacional. “Diretores da Inter me viram jogando contra o Independente, em Limeira”, relembra.
Benedito Teixeira, o Birigui, recusou a proposta da Inter e segurou Pedrinho no América. “Foi uma frustração enorme. Eu estava bem, tinha condição de arrebentar e fiquei encostado no América”, diz. “O Birigui não me vendeu, mas aceitou me emprestar para o Jalesense”, acrescenta.
No clube de Jales, Pedrinho permaneceu duas temporadas e, em uma delas, foi comandado pelo técnico Carlos Roberto Carvalho, atual empresário que administra as categorias sub-17 e sub-15 do Mirassol. “Pegava carona com ele toda semana no corcelzinho velho dele”, informa.
Desanimado, Pedrinho decidiu pendurar a chuteira em 1989, aos 24 anos de idade (nasceu em 29/6/1965). “Eu não via perspectiva de melhorias no futebol e aproveitei a juventude para iniciar a carreira em outro ramo”, descreve. Começou a trabalhar como gráfico, atividade que desenvolve há 19 anos. Viúvo, ele mora em Bálsamo e é pai de Pietro, de 14 anos.