América Futebol Clube

Rogério Ceni é uma sumidade como goleiro nem tanto pelas defesas, mas pelos gols que faz, totalizando 68 entre cobranças de falta e de pênalti, superando o paraguaio Chilavert, que marcou 63. Outros novatos começam a seguir a trilha desses ídolos, como o jovem Jorge Miguel, de Rio Preto e que está no São Paulo, e Tiago, titular da Portuguesa na Série A-2 do Campeonato Paulista. Eles já fizeram três gols cada. Nem um desses, porém, cogitou a possibilidade de jogar na linha, como atacante nato. Quem teve esse gostinho foi o goleiro Jorge Campos, titular da seleção mexicana na década de 90 e que chegou a jogar de centroavante em algumas partidas amistosas.

Entretanto, ele não foi o único na história do futebol a ter essa versatilidade. João José Velasco Frias, o Joãozinho, teve atuações impecáveis no gol de equipes amadoras, mas com um faro apurado para balançar as redes, acabou se destacando como um dos bons centroavantes que defenderam o América e o Rio Preto. Começou a jogar no São Paulinho, do bairro Bom Jesus, comandado pelo ‘seo’ Acácio, e depois foi para o Clube Atlético Santo André (Casa), ganhador de alguns títulos na várzea rio-pretense nos anos 50. Aos 17 anos, era o goleiro titular do Rio Preto no Campeonato Amador do Estado e foi campeão do Amador Municipal.

Joãozinho não esquece uma passagem no dia do seu aniversário, em 25 de março. Ele fez defesas incríveis no empate de 1 a 1 com o Fernandópolis, fora de casa. Sofreu o gol nos últimos minutos e de pênalti. Ao chegar a Rio Preto, o meia Canela (hoje, o delegado aposentado Armando Cardoso Machado) preparou uma festa surpresa para Joãozinho. “Foi um grande presente e um dia muito feliz em minha vida”, recorda. Aos poucos, ele foi enjoando de atuar no gol e de ver os companheiros desperdiçarem oportunidades no ataque. “Eu jogava melhor no gol do que na linha, mas decidi mudar de posição.” Quando chegou ao time principal do Jacaré foi jogar de centroavante e compensava a baixa estatura (1,70m) com muita impulsão, elasticidade e boa colocação na área. Predicados que usou para marcar dezenas de gols de cabeça, mesmo quando enfrentava beques grandalhões com mais de 1,90 metro de altura.“Os adversários ficavam doidos e davam a maior bronca nos zagueiros”, afirma. “Eles (adversários) diziam: como vocês tomam gol de cabeça de um baixinho desse.”

No profissional, disputou apenas dois amistosos como goleiro. No empate sem gols contra a Ferroviária e na derrota de 1 a 0 para os aspirantes do Palmeiras. Certa vez, queriam colocá-lo no gol em Taquaritinga, mas nem apareceu para viajar. Conciliava os treinos e jogos com o serviço no Banco da Lavoura (atual Real). Depois, ainda trabalhou no Banco Auxiliar. “Como as agências abriam só ao meio-dia, eu treinava de manhã, principalmente jogadas aéreas, com o Serafim de Andrade”, informa. Permaneceu no Rio Preto até setembro de 1960, quando foi contratado pelo América. Deixou de ser bancário para dedicar-se exclusivamente ao futebol. Estreou no dia 17 daquele mês, contra o Santos, junto com o meia Leônidas, autor do gol da vitória por 1 a 0, pelo Paulistão. Em novembro, jogo duro diante do São Paulo, no Mário Alves Mendonça, pelo segundo turno do Paulistão. Gino abriu o placar para o Tricolor. No início da etapa complementar, cruzamento para a área. O goleiro são-paulino Poy saiu da meta, esperou a pelota com os braços esticados, mas Joãozinho subiu mais e desviou de cabeça para igualar o marcador. Orias virou o jogo para o América, mas Gérsio empatou, já nos acréscimos. Em 1960, caiu com o Rubro do Paulistão para a Primeira Divisão, mas ficou no clube até janeiro de 1962, quando foi campeão da série “João Mendonça Falcão” ao golear o Corinthians, de Presidente Prudente, por 4 a 0. Ficou fora dos três jogos contra o São Bento, na disputa pelo acesso ao Paulistão, quando o time de Sorocaba acabou levando a melhor.

Campeão da Segundona pelo Jacaré
Joãozinho retornou ao Rio Preto e colocou mais uma faixa no peito ao conquistar o título da Segunda Divisão. Estraçalhou no hexagonal final e foi um dos principais artilheiros, junto com Milton e Colada. No segundo semestre de 1964 começou a Primeira Divisão e após boas apresentações (inclusive marcou três gols na goleada por 6 a 3 contra a Ferroviária, de Botucatu, na estréia), sofreu uma lesão no menisco e nos ligamentos do joelho direito, que abreviou sua carreira. Operado pelo ortopedista Aloísio Rossi, ainda tentou voltar a jogar, mas sem a mesma firmeza na perna, decidiu pendurar a chuteira. Joãozinho ficou viúvo ainda jovem, em 1980, quando a esposa, Marilene, sofreu um aneurisma. Mesmo assim, teve forças para criar os filhos Paulo Henrique, Marcial e Renata. Aposentado desde 1995, ele mora há 40 anos na mesma casa, na avenida Alberto Andaló, em Rio Preto. Prestes a completar 68 anos, o ex-goleiro/centroavante engorda a renda mensal como vendedor e ainda arruma tempo para curtir os netos Gabriel, Isabela e Luísa.