América Futebol Clube - São José do Rio Preto

O Rio Preto, promovido ao Paulistão, contou em sua comissão técnica com um integrante que jogou quatro anos no América. Trata-se do preparador de goleiros Marco Antonio Ortolan, um dos responsáveis pelas boas atuações de Pitarelli. É o mesmo caso do meio-campo Serginho Índio, mostrado pela coluna na semana passada, que jogou no Rubro em sete temporadas, mas foi no Jacaré que conseguiu um dos grandes feitos da carreira, ao subir de divisão, como auxiliar técnico. Ainda menino, Marco - nascido em Mirassol no dia 3 de maio de 1950 -, projetou que seria jogador de futebol. Como não tinha muita habilidade com a bola nos pés, decidiu atuar no gol. Aos 15 anos, defendia o infantil mirassolense e já treinava com o time principal, que contava com Lega, Paulo Preto, Dirceu Guaglini, entre outros. Percebeu que não teria futuro se ficasse por ali. Pegou a malinha, botou debaixo do braço e em 1968 começou a treinar no Rio Preto, comandado pelo técnico Carlos Alberto Silva. Neguito, um volante de Mirassol, havia sido negociado com o Formiga-MG e indicou Marco para o técnico Freitas Soliche, do juvenil do Atlético-MG. Jogou na equipe mineira com o zagueiro Vantuir, que depois chegou à Seleção Brasileira, e o meia Bibi, filho de Didi, bicampeão mundial em 58 e 62.

Adquiriu o passe no Atlético-MG e veio para o América em 1969. Pediu uma oportunidade ao técnico Oswaldo Bertolino e foi atendido. Era o quinto goleiro da equipe, que já tinha Reis, Raul Marcel, Edvar e Luisinho. Foi ganhando espaço e estreou no dia 9 de novembro, na derrota de 2 a 0 para o Rio Preto, em jogo amistoso, no Riopretão. Ainda evitou um desastre maior, fazendo defesas milagrosas. O presidente Benedito Teixeira, o Birigüi, prometeu igualar o salário dele com o dos principais jogadores do elenco, caso jogasse cinco partidas seguidas. Não deu brecha aos concorrentes e firmou-se como titular. Continuou jogando, mesmo após sofrer deslocamento da clavícula esquerda durante um treino. Foi quando os companheiros começaram a chamá-lo de “asa quebrada”. “Eu voava bem de mão trocada, mas era por necessidade”, diverte-se Marco. Foi dono da posição em 70, 72 e 73.

Neste período enfrentou Pelé duas vezes pelo Paulistão e se orgulha de não ter sofrido gol do “Rei”. Nas duas ocasiões, o América perdeu de 1 a 0. Dia 30 de julho de 1972, no Mário Alves Mendonça, gol do centroavante Alcindo, e no dia 18 de abril de 1973, na Vila Belmiro, gol do zagueiro Marinho. Ajudou o time rio-pretense a conquistar a “Taça dos Invictos”, com 17 jogos sem derrotas no Paulistinha. As seguidas contusões prejudicaram sua carreira. Fraturou o braço na derrota de 1 a 0 para o Palmeiras, em 73. Após se recuperar, foi emprestado ao Londrina, onde jogou com o lateral-esquerdo Dirceu, que mais tarde defendeu o Grêmio. Voltou ao América em 1975, mas jogou poucas partidas. Na maioria, ficou na reserva de Luiz Antônio, Totó. “A diretoria me dispensou por causa de uma expulsão contra a Ferroviária.”Iniciou uma peregrinação por outros clubes. Ficou duas temporadas no Atlético Goianiense, onde jogava o centroavante Baltazar, que em 1981 ganhou fama ao ser campeão brasileiro pelo Grêmio. Estava bem até quebrar o tornozelo num choque com o centroavante Bill, do Goiânia.

Recuperou-se e sob o comando do técnico Dicão, foi campeão da Segunda Divisão (atual A-3) de 1979 pelo Fernandópolis, revezando-se no gol com Durval Andreaza. No ano seguinte, também disputou posição com Durval na conquista do acesso do Tanabi da Terceira para a Segundona (atual A-2). Em 1981 jogou no Taquaritinga e encerrou a carreira na temporada seguinte, defendendo o Mirassol na Terceirona. Quando parou de jogar, começou a trabalhar como vendedor de madeiras para sustentar a mulher, Joana D’Arc, e os filhos Miriela, Mireile, Marcel e Mirele. Só deixou as vendas em 1998, ao ser convidado para treinar os goleiros das categorias de base do Mirassol. No ano seguinte, já estava no profissional, permanecendo até 2005. No ano passado executou a mesma função no América durante o Paulistão e neste ano ajudou o Jacaré a conquistar o acesso.

Marco também administra a carreira do filho
Além de continuar em franca atividade como treinador de goleiros - deve voltar ao Rio Preto para a Copa Federação - Marco Ortolan precisa arrumar tempo para administrar a carreira do filho Marcel, que seguiu seus passos e hoje é atacante do Benfica, de Portugal, e está emprestado ao São Paulo até dezembro. “Também tenho tarefas diárias para fazer no sítio, por isso acordo às 6 horas da manhã”, diz Marco, referindo-se à pequena propriedade rural, de 15 alqueires, onde foram plantados 10,5 mil pés de seringueiras. “É um investimento a longo prazo. As ávores devem começar a produzir só daqui a uns seis anos.” Marco conta que o garoto, mesmo sem tê-lo visto jogar, mostrou interesse pelo futebol ao folhear os álbuns com suas fotografias da época em que atuava como goleiro.

Marcel começou a jogar futsal no Tupan Clube. Depois atuou pelo Derac, de Rio Preto, e esteve no Guarani, com o volante Martinez, hoje no Palmeiras. Em 1998, Marcel se destacou no juvenil do Mirassol durante o Paulista da categoria e foi negociado com o Coritiba. Ao chegar na capital paranaense reclamou do frio. “Falei pra ele que aqui tem muita fábrica de móveis e que era pra ele vir lixar pau”, recorda Marco. Marcel entendeu a mensagem e resolveu encarar as baixas temperaturas de Curitiba. Foi campeão paranaense sub-20 e artilheiro do campeonato de 1998. Promovido ao time principal, foi 6º artilheiro do Brasileirão de 2003, com 20 gols. Também jogou no Samsung, da Coréia do Sul, e na Acadêmica e Braga, ambos de Portugal.