América Futebol Clube

Se alguém chegar ao Jardim Santa Luzia, em Rio Preto, à procura de Gilberto Possani será difícil localizá-lo. Mas, se perguntar por Mazzola, até os cachorros no meio da rua ensinam o caminho. E a fama ele adquiriu ao longo do tempo, ao defender o América em sete temporadas, quando os times do Interior eram temidos e respeitados pelos grandes e o Paulistão tinha tanta força quanto o Brasileirão. Veloz e driblador, não temia cara feia e chamava para bailar grandes laterais da época como Getúlio (São Paulo), Zé Maria (Corinthians), Rosemiro (Palmeiras), Nelsinho Baptista (Santos e Ponte Preta), entre outros. De tão rápido passou a ser chamado de “Flecha Rubra”. Mazzola chegou ao América no final de 1977, quando o juvenil (sub-20) havia conquistado o vice-campeonato paulista e intensificava os preparativos para a 10ª edição da Copa São Paulo, sob a batuta do técnico Benedicto Ambrózio.

Ele veio como meia-direita e centroavante - posições mais concorridas que vestibular de medicina. A carência estava na ponta-esquerda. Cândido foi promovido ao profissional e só havia Silvinho para o setor. Deslocado para a ponta, Mazzola participou da Copa São Paulo, quando o América foi prejudicado pelo árbitro Antônio de Paula e Silva e acabou eliminado pelo Fluminense. Silvinho foi promovido ao time de cima e Mazzola assumiu a titularidade no juvenil, marcando muitos gols no estadual da categoria. Não demorou para o técnico Barbatana também promovê-lo. Estreou no Paulistão de 1979, quando Silvinho havia sido vendido ao Inter-RS e Cândido brilhava na seleção paulista. Mazzola foi um dos destaques do Rubro na Taça de Prata de 1980 (equivalente à Série B do Brasileiro) e subiu para a Taça de Ouro. Disputou partidas memoráveis como na goleada de 6 a 2 sobre o Figueirense, pela Taça de Prata, e nos 4 a 0 diante do Santos, pelo Paulistão do mesmo ano.

Surgiram propostas do Vasco, Colorado (atual Paraná), Inter-RS e Atlético-PR. Todas rejeitadas pelos cartolas americanos. A partir do momento que apaixonou-se por Márcia (hoje sua esposa), filha do vice-presidente Joaquim Sequeira Dias, começou a ter problemas de relacionamento com dirigentes. “Tinha uma ala da diretoria que achava que eu jogava por apadrinhamento”, recorda. Mesmo com a incômoda situação, ele permaneceu no América até 1984. No ano seguinte, foi emprestado ao Bandeirante, de Birigüi, e em 1986 fez um acordo com o presidente Benedito Teixeira e pegou o passe. Realizou boas campanhas na Segunda Divisão (atual A-2), com o Taquaritinga, em 1986; o Ituano (1987) e o Corinthians de Presidente Prudente (1988). Sofreu uma contusão no joelho direito e foi submetido a uma artroscopia, ficando 60 dias em recuperação. “O time caiu de produção após a minha lesão. Quiseram abreviar a minha volta e eu não estava totalmente refeito.” As dores eram insuportáveis. Sem confiança para voltar a jogar de forma competitiva, Mazzola desanimou e decidiu pendurar a chuteira. Em sociedade com o sogro e o cunhado (Joaquim Júnior) montou a Proença Materiais para Construção. A firma não prosperou e resolveram fechá-la. Hoje, Mazzola administra alguns negócios da família, ao lado da mulher, a psicóloga Márcia. O objetivo, agora, é encaminhar os filhos Maria Luíza, Luiz Felipe e João Victor.

Era indicado pelo prefeito
A qualidade técnica dos jogadores nas décadas de 70 e 80 era infinitamente superior aos tempos atuais. Cada time possuía 10 craques e um cabeça-de-bagre, totalmente o oposto de hoje. Por isso, só quem tinha muito talento conseguia surpreender os exigentes olheiros das agremiações. Ser aprovado num teste era uma tarefa extremamente árdua. Apesar das dificuldades, desde a infância em Santo Antônio de Posse, na região de Campinas, onde nasceu no dia 15 de agosto de 1958, o sonho de Mazzola era ser jogador de futebol. Mas, ele precisou batalhar muito para alcançar seu objetivo. “Jogava sozinho com bola de meia e simulava jogos contra eu mesmo, falando nomes de jogadores famosos como Rivellino, Gerson, Tostão e outros”, diz. Na adolescência, Mazzola já chamava a atenção na várzea de Mogi Mirim pelo Esporte Clube Tucurense, do bairro Tucura, e foi convidado para assinar contrato com o Mogi Mirim. “Não me interessou porque na época o time disputava a Quarta Divisão e eu queria tentar a sorte numa equipe melhor.” 

O garoto habilidoso trabalhava na Davoli, concessionária de veículos. Com faro de gol, atuava como meia-direita e centroavante. Incentivado por Sinézio Zanetti, funcionário público municipal e dono do Tucurense, ele pegou a mochilinha, botou nas costas e foi tentar a sorte no mundo da bola. Para chegar com mais moral nos clubes, Mazzola levava uma carta de recomendação assinada pelo prefeito de Mogi, Luiz Netto. Com a forte indicação, Mazzola ficou uma semana em testes no Botafogo, em Ribeirão Preto, mas acabou reprovado. Perseverante, levou a tal carta também para o São Bento. Novamente, a tática deu errado. Até que chegou ao América em 1977, impôs respeito e arrebentou. O apelido lhe foi dado por Ana Fragoso, assistente social da guarda mirim de Mogi Mirim. “Ela me achava parecido com o Mazzola (José Altafini), que jogou na Seleção Brasileira e na Itália”, recorda.