América Futebol Clube

Armador talentoso, com boa visão de campo e que costurava bem o jogo, Moreno defendeu o América e foi campeão pelo extinto Grêmio Recreação Esporte e Cultura (Grec) de Mirassol. “Naquela época o futebol, até dos grandes clubes, era semi-amador. Precisávamos conciliar um trabalho paralelo com as partidas e os treinos”, recorda o ex-meio-campista, alfaiate de ofício na juventude. Batizado como José Teodoro ganhou cedo apelidos em razão da negritude. “Na escola me chamavam de Marrom e depois ficou Moreno”, diz o ex-jogador, nascido em 1º de janeiro de 1942, em José Bonifácio. Ainda criança foi estudar no Patronato Anita Costa, um colégio mantido por padres na cidade de Lins. Mudou-se para Rio Preto e passou a exibir sua categoria nos campinhos espalhados pela cidade, junto com Gijo, Gaze, Titio, Dirceu e outros. Jogou no time amador da Associação dos Alfaiates e foi convidado por dirigentes para treinar no América em 1957. Permaneceu seis anos na Vila Santa Cruz, mas em apenas dois ficou vinculado ao profissional. Nas demais temporadas defendeu as equipes amadora e de aspirantes. “Ganhava hoje o equivalente a um salário mínimo”, informa. Neste período, o Rubro era o bicho-papão da várzea rio-pretense. “Fomos pentacampeões do Amador da cidade.”

Uma das participações inesquecíveis pelo time principal foi no Torneio da Fraternidade, realizado entre os dias 18 e 20 de junho. A denominação foi uma homenagem aos “fraternos” co-irmãos Jaboticabal e Catanduva, que também disputaram a competição. O Rio Preto era o quarto integrante. O América conquistou o título com a vitória por 2 a 1 sobre o Jacaré, no derby pela última rodada, no dia 20. Moreno entrou aos 30 minutos do segundo tempo, com o placar em 1 a 1 e logo em seguida o Vermelhinho chegou ao segundo gol, marcado por Português. O América sagrou-se campeão com zero ponto perdido. O Catanduva foi vice, com dois, o Jaboticabal, quatro, e o Rio Preto, seis pontos perdidos.

Mesmo apaixonado por futebol, ele não deixava de lado os estudos e a ocupação na alfaiataria. A resistência da família contribuiu para abreviar sua carreira como jogador. “Meus irmãos (Benedito e Domingos) não gostavam que eu jogava. Eles diziam que era coisa de vagabundo”, relembra. A falta de oportunidade na equipe principal também influenciou na decisão de abandonar a carreira prematuramente, aos 22 anos de idade. “Dava duro nos treinos e só jogava no mistão”, afirma. “Passei num concurso público estadual e trabalhei quase 20 anos no Ambulatório Regional de Especialidades (ARE) de Rio Preto”, diz. Moreno ainda disputou o Amadorzão pela Associação dos Alfaiates e pelo Texas. Joga futebol até hoje no “Racha das 4”, realizado aos sábados, no clube de campo do Palestra. Ele parou de trabalhar no ano passado e mora no Centro de Rio Preto com a mulher, Irene, com quem é casado desde 1966.

Campeão da Terceira Divisão pelo extinto Grec
Em 1957, quando Moreno começou a jogar no América surgiu em Mirassol o Grêmio Recreação Esporte e Cultura, o Grec, fundado com a finalidade de proporcionar mais lazer e opções culturais aos mirassolenses. Entretanto, Iranizio Pinto, Luis Carlos Cação Seabra, Cristovam Imbernom, Otto Crosara, Américo Sotto, Agnello Veratti, Wanderley Brienze, Luis Carlos Zanin e Fernando da Rocha decidiram criar o time de futebol do clube. No início, os grequianos utilizavam o estádio Giocondo Zancaner, cedido pelo Mirassol Futebol Clube. Porém, a rivalidade entre as agremiações ficou acirrada e o Grec precisou arranjar outra casa. Recebeu a doação da área onde hoje é o estádio municipal José Maria de Campos Maia. Os dirigentes fizeram uma arquibancada de madeira, improvisaram vestiários e começaram a mandar os jogos no local, chamando-o de estádio Monumento.

Os caminhos de Moreno e do Grec se cruzaram em 11 de agosto de 1961, quando o jogador assinou contrato com o clube. “O time disputaria a Terceira Divisão (atual Segundona ou Série B) e a diretoria investiu em contratações para subir”, recorda. Moreno foi um dos reforços, cedido pelo América. Naquela época, a federação dividia os campeonatos da seguinte forma: Especial (elite), Primeira (atual A-2), Segunda (A-3) e Terceira (Série B ou Segundona). Era a segunda edição da Terceirona. No primeiro ano, a Votuporanguense faturou o título. O torneio começou no dia 10 de setembro, com a vitória do Grec por 1 a 0 sobre o Grêmio de Cardoso, na casa do adversário. Depois, o Grec voltou a vencer o time cardosense por 2 a 0. Fez três duelos contra Murutinga do Sul, ganhando por 5 a 0 (em casa), 5 a 1 (no estádio Mário Alves Mendonça) e empatando em 2 a 2 no campo inimigo. Com os resultados, o Grec ficou em primeiro lugar na Série Senador Moura Andrade. O Usina Santa Bárbara (atual União Barbarense) foi o vencedor da Série Jânio Quadros, que contava ainda com Vila Santista, Portofelicense, Fafard, Sorocabana e Capivariano.

Grec e Usina disputaram o título da competição. No primeiro jogo, em Santa Bárbara D’Oeste, o Usina goleou por 4 a 1. No segundo, no Monumento, em Mirassol, o Grec fez 2 a 1. No terceiro confronto, em Taquaritinga, houve empate de 1 a 1. A grande finalíssima ocorreu no dia 11 de março de 1962, novamente em Taquaritinga. Uma caravana de 300 torcedores e a corporação musical Juvenal Noronha, a famosa furiosa da cidade, foram prestigiar o Grec. Com o apoio da galera, ganhou por 1 a 0, gol de Tangerina, e subiu de divisão. Em 25 de março, o Grec recebeu as faixas de campeão, no amistoso com o América, que venceu por 3 a 0, gols de Joãozinho, Cabralzinho e do estreante Walter Carioca. A renda foi de Cr$ 48.700,00, proporcionada por 1.581 pagantes.