América Futebol Clube - São José do Rio Preto

“Nunca tive o objetivo de ser jogador. As coisas aconteceram naturalmente”, costuma dizer Gutemberg Vieira França, potiguar de Pau dos Ferros, cidade próxima de Mossoró e localizada a 400 quilômetros da capital Natal. Mas quis o destino que ele tivesse esse gostinho, mesmo por pouco tempo. Determinado e raçudo, é lembrado até hoje como um dos melhores laterais-direitos da história do América, onde foi vice-campeão em 1962 e faturou o título de 1963, ajudando o Rubro a retornar ao Paulistão. “Num dos primeiros coletivos que fiz o Ambrózio me falou: ‘cuidado garoto, posso quebrar a tua perna’”, recorda. Na verdade, Ambrózio não quebraria a perna de ninguém, mas foi a forma que encontrou para acabar com a correria do novato e tentar intimidá-lo. Porém, o tiro saiu pela culatra e o ‘cumpadi’ ficou surpreso com a resposta. “Falei pra ele: ‘você já pensou que eu também posso quebrar a tua’”, retrucou Gutemberg. “Depois disso, ele (Ambrózio) passou a me respeitar e viramos grandes amigos”, acrescenta.

Nascido em 15 de setembro de 1941, Gutemberg começou a jogar futebol em Sete Lagoas (MG), a 50 quilômetros de Belo Horizonte, para onde seus pais, os comerciantes Bernardo e Alzira, haviam se mudado. “Antes, nós saímos de Pau dos Ferros e moramos em Feira de Santana, na Bahia”, informa. Ingressou no infantil do Bela Vista, rival do tradicional Democrata. Em 1961, foi promovido pelo técnico José Belarmino ao time profissional, integrante da Primeira Divisão do futebol mineiro. Ele não esquece a marcante vitória por 3 a 1 sobre o poderoso Atlético-MG, no dia 18 de fevereiro de 1962. Gutemberg veio para o América por acaso. Os cartolas Dureid Fauaz, Sami Gurayb e Jaime Benedito da Silva foram ver o central do Valeriodoce, de Itabira, no duelo com o Bela Vista. “Eu não me lembro o nome do central, que já era experiente, mas os dirigentes preferiram me contratar”, relembra.

João Avelino, técnico americano, já o conhecia da época em que comandou o Uberaba, e aprovou sua contratação. Porém, preferiu deslocá-lo para a lateral. “Ele me achava baixo para jogar de central”, afirma Gutemberg, de 1,72m de estatura e que chegou em agosto de 1962, em tempo de participar de todo Campeonato Paulista da Primeira Divisão (equivalente ao A-2 de hoje). A equipe rio-pretense foi campeã da Série João Mendonça Falcão e decidiu o título com o São Bento, vencedor da Série José Emírio de Moraes. Após dois empates (0 a 0, em Rio Preto, e 1 a 1 em Sorocaba), o São Bento ganhou o terceiro jogo por 2 a 1, no Pacaembu, e subiu para a Especial (Paulistão). Em 1963, o América não deixou a oportunidade escapar. Na primeira fase, terminou na liderança da chave que tinha Francana, Esportiva Sanjoanense, Corinthians de Prudente, Barretos, Osvaldo Cruz, Tupã e Votuporanguense. Na fase final os adversários foram Estrada de Sorocaba, Taubaté, Corinthians de Prudente, Portuguesa Santista, Batatais, São Bento de Marília, Ponte Preta e Votuporanguense. O América confirmou o retorno à elite no dia 22 de abril de 1964, beneficiado pela vitória da Ponte Preta por 2 a 1 sobre a Santista. Quatro dias depois, no domingo 26 de abril, na última rodada da fase decisiva, goleou o São Bento de Marília por 5 a 1, no estádio Mário Alves Mendonça, que recebeu público superior a 10 mil pessoas.

Decide parar em 65
Depois do título de 1963, Gutemberg foi emprestado pelo América ao Arapongas-PR. Retornou em agosto de 1964 e sentiu-se rejeitado pelo técnico Rubens Minelli. “Não era utilizado e a diretoria não me liberava para outros clubes”, diz. Desanimado, Gutemberg abandonou a carreira em 1965 e arrumou emprego no Grupo Tarraf, onde trabalhou por 31 anos. Apenas por hobby, ele disputou o Amadorzão de 1966 e de 1967 pelo Cacique e Caldense, respectivamente. “Em 67 perdemos a final para o América.” Casado desde 1966 com Elza, Gutemberg é pai de Cléber Alexandre e Clayton André e avô de Arian. Ele mora na Vila Imperial, em Rio Preto.