América Futebol Clube

Torcedores do América hoje choram a queda do time do coração para a quarta divi­são do futebol estadual, cam­peonato que beira o amadoris­mo. Pela atual situação finan­ceira e estrutural, seria utópi­co imaginar a equipe lutando por uma vaga na elite paulis­ta, como ocorreu há 50 anos.

Exatamente no dia 22 de abril de 1964, a nação rubra foi às ruas de Rio Preto para come­morar o segundo acesso do Vermelhinho para o Paulistão. E o esquadrão nem precisou entrar em campo pela fase decisiva na­quela noite de quarta-feira. Is­so porque a vitória de 2 a 1 da Ponte Preta sobre a Portugue­sa Santista, em Santos, exter­minou as chances de os concorrentes alcançarem o América.  Com quatro pontos de vanta­gem, o time rio-pretense pôde festejar antecipadamente. 

A diretoria começou a for­mar a equipe em março com a contratação do técnico Rubens Minelli, que até então tinha tra­balhado apenas nas categorias amadoras do Palmeiras. O Campeonato da Primeira Divi­são (atual Série A-2) só foi ini­ciado quase seis meses depois. O primeiro obstáculo da­quela inesquecível caminhada na Chave C foi a Francana, em Franca, com empate de 1 a 1, no dia 1° de setembro. Impie­doso, aplicou 7 a 0 na Santacru­zense no estádio Mário Alves Mendonça. Porém, a equipe te­ve altos e baixos na primeira fa­se e levou 5 a 1 do Corinthians, em Presidente Prudente, no fe­riado de 7 de setembro.

Os americanos creditaram o revés ao árbitro Hélio Carlos Bertoli, que teria validado três gols irregulares do adversário, além de expulsar os defenso­res Bertolino e Murilo, ambos do Rubro, e o centroavante Jonas, do Corinthinha. Depois, fez 3 a 1 no Barretos e perdeu de 3 a 0 em Osvaldo Cruz. Endiabrado, Cardoso mar­cou quatro gols nos 5 a 0 dian­te do Tupã. Dirceu comple­tou o massacre. Porém, no complemento do primeiro turno, nova derrota, desta vez para a Votuporanguense, em Votuporanga, por 1 a 0.

Na abertura do returno, a equipe deu o troco no Corin­thians Prudentino ao golear por 5 a 0, com direito a show do maestro Waltinho Rosset­to, autor de três gols. Depois, fez 2 a 0 na Santacruzense, em Santa Cruz do Rio Pardo. A primeira vitória fora de casa empolgou Minelli. "Agora tudo ficará mais fácil", previa. De fato, o time melhorou e com dois gols de Cuca, bateu a Francana por 2 a 0.  No entan­to, voltou a perder na rodada seguinte (1 a 0 para o Barretos, fora de casa).

A reabilitação veio com um 3 a 0 sobre a, en­tão, líder Votuporanguense e um empate sem gols em Tupã. América, Votuporan­guense, Corinthians e Osval­do Cruz chegaram à ultima rodada da primeira fase empatados. O jogo da classificação foi contra o Osvaldo Cruz, no Mário Alves Mendonça.  Com uma atuação de encher os olhos, o América fez 5 a 2. América, Corinthians e Votuporanguense terminaram empatados com 18 pontos ca­da e se classificaram. Os riopretenses levaram vantagem no saldo de gols (20 contra 13 do time prudentino e 4 do vo­tuporanguense). Osvaldo Cruz com 16 pontos, Barretos 14, Tupã 11, Francana 9 e Santa­cruzense 8, foram eliminados.

Estrada de Sorocaba, Por­tuguesa Santista e Taubaté fi­caram com as vagas da Chave A. Nacional, Irmãos Romano de Santo André e Paulista de Jundiaí foram eliminados. Na B, Ponte Preta, Ferroviária, Batatais e São Bento de Ma­rília avançaram, enquanto XV de Jaú, Jaboticabal e Catandu­va ficaram pelo caminho.  

Equipe ficou quinze partidas sem perder

O torneio dos finalistas só foi realizado no ano seguinte, com no­ve equipes. O América estreou com vitória de 2 a 0 sobre o Bata­tais, bateu o São Bento, em Ma­rília,por 2 a 1, e, na sua melhor apre­sentação no campeonato, goleou a Ponte Preta por 4 a 1. A equipe che­gou a ficar invicta 15 jogos. Perdeu de 1 a 0 do Barretos, dia 6 de novem­bro de 1963, pela antepenúltima ro­dada da primeira fase e só voltou a ser supe­rada no dia 5 de abril de 1964 (2 a 0 para o Estrada, em Sorocaba), pela 5ª rodada do returno da fase final, quando o título era urna questão de tempo. Neste período, foram dez vitórias e cinco empates.

O impulso para a conquista fo­ram três vitórias seguidas fora de casa, contra Corinthians (1 a 0), Portuguesa Santista (3 a 2) e Votuporanguense (1 a 0). Na abertura do returno, chegou a fazer 2 a 0 so­bre a Ponte, em Campinas, mas ce­deu o empate de 3 a 3. No dia 1º de abril, a Santista jogou demais na Vi­la Santa Cruz e quase acabou com a graça americana. Fez 1 a 0 e o em­pate salvador saiu apenas aos 45 mi­nutos do 2º tempo, com Cuca.

Com grande vantagem na clas­sificação, a equipe relaxou e sofreu duas derrotas seguidas, ambas por 2 a 0, para Estrada e Batatais. Se re­cuperou ao ganhar de 2 a 1 da Votuporanguense na quarta-feira, dia 15 de abril.  Mesmo sem jogar na quarta-feira, 22 de abril, o Améri­ca acabou beneficiado pela vitória de 2 a 1 da Ponte sobre a Santista.  

Assim, nenhum concorrente poderia alcançá-lo. A nação vermelhinha explodiu de alegria e promoveu um carnaval temporão em abril para comemorar o retor­no à elite. No jogo das faixas, dia 26 de abril, 5 a 1 contra o São Ben­to de Marília. O América foi campeão com 24 pontos, seguido de Taubaté com 20, Santista 19, Es­trada 18, Votuporanguense 16, Corinthians 15, Batatais e Ponte Preta 14 cada, e São Bento 4.