América Futebol Clube

O talentoso meio-campista Aymar teve uma curta passa­gem pelo América, mas o sufi­ciente para ajudar a equipe a conquistar o título do Torneio Início do Campeonato Paulis­ta de 1958. A diretoria decidiu manter a base da equipe campeã da Segunda Divisão do ano anterior e trouxe apenas alguns reforços para a elite.

Destaque do Mirassol e do Grec, Aymar começou a treinar no América em 31 de março de 1958, sob a supervisão do técni­co João Avelino. No dia ante­rior, o Vermelhinho havia em­patado em 1 a 1 com o Flamen­go de Araçatuba, no campo ad­versário, em jogo amistoso. Avelino reclamava da carência no elenco de um meia criativo. Na mesma semana chega­ram o zagueiro Julinho - assas­sinado por Francisco Ripamon­te no ano seguinte -, e o lateral esquerdo Pedrinho, ambos vin­dos de Carangola-MG.  Apesar de treinar bem e de receber elo­gios de João Avelino, Aymar es­tava fora de forma e não foi re­lacionado para a curta turnê por Goiânia, onde o Rubro dis­putou dois amistosos. Ganhou de 2 a 0 do Atlético-GO, no sá­bado, 5 de abril, e goleou o Goiás por 4 a 2 no dia seguinte.

No dia 16 de abril, Avelino deixou o América e foi para o Rio Preto. Aborrecido com a indecisão da diretoria se iria ou não contratá-lo, Aymar re­tornou para o Grec. Neste meio tempo disputou algumas partidas amistosas pelo time grená, inclusive no derby dian­te do Mirassol, no dia 1° de maio, em comemoração ao Dia do Trabalho. O confronto terminou empatado em 1 a 1 e Aymar criou a jogada que cul­minou no gol de Gil. Orlando Giachetto empatou para o Mi­rassol no segundo tempo. Na mesma data, o América venceu a Ferroviária por 3 a 1, em amistoso que marcou a reinauguração do remodelado estádio Mário Alves Mendon­ça, que começou a ser chamado de "Colosso da Santa Cruz". Aymar ainda estava no Grec e não participou da primeira fase do Torneio Início do Paulistão, que foi dividida em dois grupos. Um deles aconteceu em Rio Preto, reu­nindo, além do América, Pal­meiras, São Paulo, XV de Pi­racicaba, Ferroviária, Botafo­go, Noroeste e XV de Jaú. América e Palmeiras foram os classificados. Jabaquara de Santos e Corinthians garanti­ram as vagas na outra chave. O armador voltou ao Rubro às vésperas da fase decisiva. Mesmo sem ambiente, arreben­tou no treino realizado na terça-feira à noite, dia 12 de maio, im­pressionando torcedores e o téc­nico argentino Filpo Nunes, que havia sido contratado para substituir João Avelino.  Filpo entusiasmou-se com o reforço. "O Aymar tra­balha bem a bola, é inteligen­te nos passes e nas deslocações, além do bom sen­so de oportunismo", elogiou o comandante, na época, num "portunhol" inconfundível.

As partidas do Torneio Início tinham 30 minutos em dois tempos de 15. A final foi realizada em dois tempos de 30 minutos cada. Sem pesta­nejar, o treinador o escalou pa­ra a semifinal diante do Jaba­quara.  O América ganhou de 1 a 0, gol de Cuca. No outro duelo, o Palmeiras bateu o Corínthians pelo mesmo placar.  Na decisão, Filpo Nunes sa­cou Aymar e colocou Colada.  Houve empate de 1 a 1 no tem­po normal. Fernando abriu o placar para o Alviverde, que atuou com os aspirantes. Fogo­sa, de pênalti sofrido por Cola­da, empatou para o Rubro.  Na prorrogação, o centroavante Dozinho chutou de longe e o goleiro Victor mandou a escan­teio, encerrando o duelo na ho­ra, com a vitória por um escan­teio para a equipe rio-preten­se. "Depois, não houve acerto financeiro para a minha per­manência", diz Aymar.

Defendeu mais cinco equipes

Nascido em Mirassol no dia 5 de março de 1939, Aymar Gon­çalves de Araújo começou a jo­gar futebol no time de garotos do Clube Atlético Paulista, que con­tava com Bazaninho e Bebedou­ro, entre outros.  João Gomide de Oliveira, diretor do Mirassol, o viu jogar na equipe da molecada e o convidou para treinar no Mi­rassol.  Aos 16 anos de idade, já fa­zia parte do elenco mirassolense.

Pouco tempo depois, Wan­derley Brienze, Cristovam Im­bemom e Américo Sotto, diri­gentes do Grec (Grêmio Recrea­ção Esporte e Cultura), o con­venceram a trocar de ares. "Mi­nha mãe, dona Tida, que era mui­to católica, não gostava que eu jogasse futebol", informa Aymar. "E o que pesou na minha trans­ferência é que o Grec foi funda­do por marianos", acrescenta. 

Em 1960, durante a Tercei­ra Divisão, Aymar sofreu uma grave lesão no ligamento do joelho direito. "Pensei que não fosse mais jogar futebol", diz.  Dalzel Freire Gaspar, médico do São Paulo, lhe passou um tratamento rigoroso e um ano depois Aymar voltou a jogar.  Defendeu o Grec novamen­te, depois foi para o Nevense. O técnico João Avelino retor­nou ao América e o time esta­va subindo para o Paulistão. O treinador foi buscá-lo em Ne­ves Paulista. "Assinei contrato por um curto período.  A dire­toria não cumpriu alguns acor­dos e eu só joguei contra o Ja­baquara, em Santos", informa.

Em 1964, Aymar foi para o Penapolense, do treinador Nena, ex-goleiro da Portuguesa. "Fiquei sem receber salários. Desanimei e não queria mais jogar", recorda.  Começou a tra­balhar de encanador com o pai, Calixtrato. "Num belo dia, estávamos fazendo a instala­ção hidráulica de uma casa e o Pedro Mendes (treinador) apa­receu querendo me levar para a Bancária de Fernandópolis", diz. "Meu negócio era sossegar e trabalhar para ter dinheiro."

Apesar de relutar, aceitou o convite e assinou contrato de oito meses com a equipe fer­nandopolense, que contava com o centroavante Téia, que depois foi para a Ferroviária, o ponta Canhoto (do São Paulo), entre outros. "Foi quando ga­nhei dinheiro com o futebol." 

Pendurou as chuteiras em 1965

Aymar parou de jogar em 1965, em Fernandópolis, e arru­mou emprego no escritório contá­bil Vocard, prestador de serviços de uma algodoeira em Urânia. Como o salário não pagava nem a pensão, ficou só um mês. Um amigo, conhecido por Cabeção, o convidou para trabalhar no Ban­co Mercantil do Comércio. In­gressou na agência de Mirassol em 1966. Depois, foi transferido para Fernandópolis, Rio Preto, Jundiaí, Araraquara e atuou ainda na matriz de São Paulo.

Disputou torneios de fute­bol de salão e campeonatos in­tersindicais pelos bancários. Também defendeu o time ama­dor do Cacique, de Rio Preto, no início da década de 1970. Aposentou-se em 1992 no Ban­co Mercantil. Casado com Nata­lina Chiarelli, ele é pai de Rita de Cássia, Adriana Paula, Mar­cos Alexandre (in memorian) e Marcos Vinicius, e avô de Mari­na. A família mora em Jundiaí.