América Futebol Clube

Ele não faz gols, não dri­bla, não faz lançamentos, nem defesas acrobáticas ou mirabolantes. Só é lembrado nas transmissões futebolísti­cas quando parte em dispara­da para atender jogadores ma­chucados ou que caem apenas para fazer cera. Esta é a vida do massagista. Uma figura que trabalha muito mais nos bastidores do que em dias de jogos. Mas sem ele o futebol não teria o mesmo brilho.

O Flash Bola rende nesta edição uma homenagem a Maurício Brioni, um dos mais antigos massagistas ain­da em atividade (senão o mais antigo), que dedicou 32 anos de sua vida ao América. Hoje, ele não atua mais nos grama­dos, mas presta serviços à uma academia de Rio Preto. 

Pelo nome, poucos o co­nhecem. Afinal, Brioni ficou famoso nos campos como Ri­sadinha, apelido que ganhou de Canhotinho, jogador do ti­me amador rio-pretense do Torino Brasileiro, da Vila Aurora. "Sempre fui muito alegre e risonho. Por isso, o Canhotinho começou a me chamar de Risadinha", diz. "Não fiquei bravo, mas, mes­mo assim, o apelido pegou." Nascido em Potirenda­ba, no dia 18 de dezembro de 1944, ele mudou-se para a Vila Aurora em 1952. Há 61 anos mora na mesma casa. Apaixonado por futebol, co­meçou a acompanhar os ti­mes amadores e varzeanos do bairro nas competições e em jogos amistosos. 

Aos 14 anos de idade já entrava nos gramados pelo Esporte Clube Aurora para jo­gar aquela "água santa" que curava na hora os jogadores que se contorciam em dores. Depois também colaborou com o Paulista e o Torino. "O futebol amador de Rio Preto era muito forte, com atletas de alto nível", diz. 

Em 1962, o amigo José Luiz Scarpelli o indicou pa­ra seu cunhado Farid, que na época era diretor do de­partamento amador do América. Foi contratado co­mo aprendiz de Antônio Sutto, o Tio Nico, o mais re­nomado massagista da his­tória do Rubro. Uma verda­deira lenda. "Aprendi mui­to com o Tio Nico", afirma. 

Sem cursos, Risadinha aprendeu o oficio na prática. "Além do Tio Nico, recebi instruções importantes de Orestes Ribeiro e Ariobaldo de Castro (médicos do Améri­ca)", destaca. Ele dava assis­tência ao time amador duran­te os treinos da semana e auxi­liava Tio Nico em dias de jo­gos do profissional. "Naquela época fazíamos muita massa­gem antes dos jogos, para aquecer, e após as partidas e treinos, para relaxar a muscu­latura da boleirada", descre­ve. Os tratamentos médicos para os contundidos eram à base de gelo e toalha quente. 

Risadinha ficou no Amé­rica até 1995, quando se apo­sentou. Na opinião dele, a melhor formação do Verme­lhinho em todos os tempos foi a de 1979, que contava com Luis Fernando Calori; Berto, Mauro (Ailton Silva), Jorge Lima e Ademir Go­mes; Gerson Andreotti, Ser­ginho Índio e Cléo; Mari­nho, Luis Fernando Gaúcho e Cândido. "Era um timaço."

Durante muito tempo ele teve dupla jornada. Após os treinos no América cor­ria para o Balneário Foca, onde também prestava servi­ço. "Trabalho lá até hoje. In­felizmente vai fechar no fi­nal deste mês", lamenta. Ca­sado com Lurdes, Risadi­nha é pai de Marcos Vini­cius, funcionário público do judiciário e que trabalha no fórum João Mendes Júnior, em São Paulo. Ele é sogro de Roberta e avô de Clara. 

Veloz, ganhou o apelido de “homem ventania”

Mário Américo, Nocaute Jack, Pai Santana, Seu Riva e Luizão foram os massagistas mais famosos do futebol brasi­leiro. Alguns ganharam fama pela eficiência na função e ou­tros apenas pelo modo folclóri­co como agiam. Risadinha sempre foi discreto, mas é lem­brado até hoje pelos piques que dava para atender a bolei-rada dentro de campo. Mesmo ra, após cada treino, Risadi­nha massageava de dez a 20 jo­gadores. "De tanta massagem que fez, ele chegou a perder as digitais", destaca o historia­dor. "Depois, com o tempo, suas digitais voltaram."

Para Rui Guimarães, uma das maiores injustiças do fute­bol ocorreu em 1987, na ex­cursão do time sub-20 do América ao Japão. A direto­ria mantinha um intercâmbio com empresários japone­ses, que pagavam para enviar jovens asiáticos para apren­der futebol no estádio Mário Alves Mendonça. "Dirigen­tes disseram que não precisa­riam de massagista, que lá no Japão tinha, e deixaram o Ri­sadinha fora da viagem", diz. Mesmo assim, Risadinha não guarda mágoa. Pelo con­trário, lamenta a crise atual que afeta o América e deixa o clube à beira da falência. "Co­mo vivi dentro do clube por muitos anos, fico muito triste com a atual situação", afirma. Ele até dá uma sugestão para a agremiação tentar se reer­guer. "Na minha opinião, o América deveria parar por uns dois anos, formar uma no­va diretoria, se reestruturar para voltar com força, como fi­zeram Votuporanguense e No­vorizontino, por exemplo."