América Futebol Clube

Valô não está mais desampa­rado como há pouco mais de um ano, quando o Diário da Região publicou que o ex-golei­ro perambulava pelas ruas. Po­rém, a situação dele não melho­rou muito.  Hoje, mora de favor em um cômodo no Teixeirão e tem autorização da diretoria do América e de Rogério Lopes, o Lopinho, gestor das categorias de base, para fazer as refeições (café-da-manhã, almoço e jan­tar) junto com os jovens jogado­res, no alojamento do estádio. Também recebe ajuda de ou­tros velhos amigos, como o ex-la­teral-esquerdo Ademir Gomes e o ex-zagueiro João Santos.  "O Ademir sempre me dá roupas e calçados", diz Valô. "Às vezes também pego marmitas no res­taurante do João Santos (próxi­mo ao Teixeirão)", emenda o ídolo da torcida americana, que ainda não se aposentou.

Além da caridade que rece­be, o ex-goleiro diz fazer al­guns bicos para se manter. "De­pois que parei de jogar sempre trabalhei como vendedor e ho­je vendo brindes (chaveiros, ca­netas e canecas)", informa.  No entanto, é visto com frequência em um barzinho da Vila Angé­lica bebendo cervejas de mar­cas baratas durante a semana, mesmo com o sol a pino.  A situação dele comove muita gente.  Fã de Valô, Lopi­nho diz ter permitido que ele se alimentasse junto com os ga­rotos da base do América. "Ele respeita todos, é respeitado e tem liberdade para comer no clube quando quiser", afirma o gestor. "Arrumamos um cômo­do para ele, que fica próximo do alojamento, e conta com ba­nheiro", emenda Lopinho.

O presidente José Carlos Pe­reira Neto, o Zé Branco, não co­locou empecilho para abrigar o ex-jogador no Teixeirão. "Pre­cisamos ser maleáveis e não custa nada acolher uma pessoa que muito colaborou com o clube", destaca. No futuro, o carto­la diz que pretende ampliar a contribuição. "O América vai oferecer auxílio médico e ou­tros benefícios ao Valô.  A inten­ção é ajudá-lo eternamente." Revelado no Linense, Valô de­fendeu o América de 1978 a 1985. O responsável pela vinda dele pa­ra o Rubro foi o ex-dirigente Luiz Carlos Jordani, que nasceu em Lins, mas está radicado em Rio Preto há meio século. "O Améri­ca disputou um amistoso com o Linense, que estava ressurgindo, e o Valô foi muito bem, então, de­cidimos trazê-lo para um período de testes", descreve "Aprovado, teve muitas oportunidades na vi­da para ganhar dinheiro.  Além de tudo era bem casado."

Jordani lamenta a atual situa­ção do ex-pupilo. "Fico triste em ver assim uma pessoa que ajudei na fase de bonança", diz. "O fute­bol é cruel.  Te leva ao céu e, de re­pente, por falta de equilíbrio ou estrutura, te condena a uma vida difícil", acrescenta.  "Todos têm vontade de ajudá-lo, mas a pes­soa precisa se ajudar também."  O ex-dirigente citou como exemplo de superação o ex-za­gueiro Jorge Lima, que atuou no América de junho de 1979 e dezembro de 1984, e ainda defendeu Mirassol, Barretos e outras equipes. "O Jorge tam­bém sofreu com alcoolismo após parar de jogar, mas se reergueu. Hoje é um profissio­nal respeitado e um chefe de fa­mília exemplar", cita Jordani.

Defendeu o América e mais seis times

Nascido em Bariri, na região de Bauru, em 10 de dezembro de 1955, Alvaro Augusto Bollini Piot­to ganhou o apelido ainda na infância. "Minha irmã (Isabel) pronun­ciava Alvalô. Aí ficou Valô", diz o ex-jogador, que começou a carrei­ra na Inter de Limeira.  "Me desta­quei num amistoso contra o Marília e o empresário Valter Perini me chamou para jogar no Linen­se", recorda. "Eu tinha um acordo apenas verbal com a Inter."

No time de Lins, foi campeão da Intermediária (atual Série A-3). Depois, brilhou no América, po­rém uma contusão no púbis o afas­tou dos gramados por um ano e meio. Voltou a jogar em 1982 e foi emprestado à Votuporanguense. Retornou ao Rubro e ficou duas temporadas.  Com atuações destaca­das, no começo de 1984 foi convo­cado pelo técnico Jair Picerni para defender a seleção pré-olímpica do Brasil, mas não foi à Olimpíada de Los Angeles, nos Estados Unidos. Cedido ao Criciúma em 1985, teve o vínculo comprado pelo pre­sidente da Votuporanguense, Dorival Veronezzi, em 1986.  Atuou dois anos na Alvinegra e no come­ço de 1988 acertou com o Catan­duvense.  De acordo como profes­sor de história e diretor do Museu Padre Albino de Catanduva, Sérgio Bolinelli, Valô ficou no Grê­mio de fevereiro a maio de 1988.  Em seguida, o goleiro transfe­riu-se para o Olímpia, levado pe­lo treinador José Roberto de Oli­veira.  "O Zé Roberto ficou pouco tempo. Depois vieram o Pinho e o Marcão Favarini (treinador e preparador de goleiros, respecti­vamente)", informa. "Subimos de divisão", diz Valô, que parou de jogar em 1989, no Olímpia.  Com a ex-mulher, Rita de Cás­sia, Valô teve os filhos Mariáh e Glauber.  Ele é avô de Augusto, de 4 anos, filho de Mariáh.  "De vez em quando eu vejo minha fi­lha e meu neto.  Ele é demais.”

Abalado após a morte dos irmãos

Valô admite ter entrado em desespero após as mortes da sua irmã Isabel Cristina (ví­tima de lúpus) e do irmão mais velho, Júnior, que era corretor da Bolsa de Valores em São Paulo e teve câncer. As duas perdas ocorreram no período de um ano (entre 1994 e 1995). "Ele era meu gu­ru. Se estivesse vivo, talvez eu não estaria nesta situação", diz o ex-goleiro.  Entrou em depressão e foi dominado pe­lo alcoolismo. "Na verdade eu fico constrangido de morar de favor no América", admi­te.  "Hoje vendo o almoço pa­ra comer o jantar", emenda.

Em 21 de julho de 2012, o Diário noticiou que Valô estava sem moradia, após desentendimentos com sua filha, Mariáh, com quem morava.  Com dificuldades financeiras, chegou a dor­mir ao relento, em uma pra­ça do bairro Maceno, e na Rodoviária de Rio Preto.

No dia seguinte, amigos, fás e colegas do esporte fize­ram uma corrente do bem. Todos empenhados em lhe dar dignidade. O ídolo do América nos anos 1980 foi convidado pelo então gestor do clube, Dimas Macedo, pa­ra trabalhar como prepara­dor de goleiros e morar no alojamento do Teixeirão. Entretanto, o emprego no Rubro não durou muito.  Com a saída de Dimas Mace­do, Valô perdeu espaço. O sucessor de Dimas, Jorgi­nho Flores, trouxe o treina­dor catarinense Edmar Heiler e sua comissão técnica.

Dimas assumiu o Catandu­vense, convidou Valô para tra­balhar no clube de Catanduva, mas ele teria recusado. "Ten­tei voltar ao futebol, mas não deu certo. Apesar de todos os problemas, o Dimas sempre foi correto comigo.  Agradeço a ele e ao Cleber Arado (que também lhe ofereceu emprego na época) pela oportunidade que me deram." Valô fez as pa­zes com a família, mas sabe que hoje seria complicado vol­tar a viver na casa da filha.