América Futebol Clube

Completam-se amanhã, dia 3 de junho, 15 anos da morte do lateral direito Xatara, campeão da Segunda Divisão (atual Sé­rie A-2) pelo América, em 1957. Adhemar da Silva Xatara foi um jogador moderno para a sua época.  A maioria dos atletas da posição se preocupava apenas em marcar, mas ele, além da efi­ciência na defesa, também gos­tava de apoiar com frequência. No entanto, ao invés de cruzar ao chegar à linha de fundo, mes­mo sem ângulo, chutava direto ao gol adversário.

Depois de passagens por Flu­minense-RJ e Santos, Xatara che­gou ao América em 1952. Ficou dois anos no clube e depois trans­feriu-se para o rival Rio Preto, on­de permaneceu até julho de 1955. Após atuações destacadas pelo ti­me esmeraldino foi contratado no­vamente pelo Rubro, por intermé­dio do presidente Délcio Bellini.

Dois anos mais tarde, teve a honra de integrar o magnífico elenco americano que atrope­lou os concorrentes na Segundona, conquistando o título e le­vando o Vermelhinho à elite do futebol estadual pela primeira vez em sua história. Foi uma campanha fantástica. No total, a equipe comandada pelo técnico João Avelino chegou a ficar 27 partidas sem perder - entre amis­tosos e duelos pelo campeonato. No hexagonal decisivo, o América estreou com empate de 2 a 2 contra o Catanduva, em Pin­dorama; depois, bateu Taquari­tinga (1 a 0), Paulista (3 a 1) e per­deu para o São Bento, em Sorocaba (1 a 0). Recuperou-se, com triunfos diante do Corinthians de Presidente Prudente (2 a 0), Catanduva (1 a 0), Paulista (4 a 0) e foi superado em Taquaritinga (1 a 0). Fez impiedosos 6 a 1 diante do São Bento e confirmou o aces­so ao Paulistão ao derrotar o Co­rinthians, em Prudente, por 3 a 2, no dia 27 de dezembro de 1957.

Dificilmente a equipe sofria baixas por contusões. Por isso, quando o locutor Samy Goraib, do serviço de alto-falantes do es­tádio Mário Alves Mendonça, ia anunciar a escalação do Amé­rica, a galera sabia ao pé da le­tra: Vilera; Xatara e Fogosa; Adésio, Bertolino e Ambrózio; Cuca, Leal, Dozinho, Vidal (Os­car) e Orias. O atacante Colada também teve participação efeti­va naquela conquista. Pelo Vermelhinho, o lateral também foi campeão do Torneio Início do Paulistão de 1958.

Xatara atuou no futebol rio­pretense entre 1952 e 1959. Nes­te período disputou 13 derbys locais, sendo sete pelo América, com quatro vitórias e três empa­tes. Já no Rio Preto não teve o mesmo desempenho e foi derro­tado nos seis confrontos que fez diante do Rubro. No primeiro duelo, Xatara brilhou nos 6 a 0 do América, em amistoso reali­zado no dia 7 de junho de 1953. A última vez que esteve em cam­po nas batalhas entre os eternos rivais foi em 14 de julho de 1957. Na ocasião, ajudou o Ru­bro a triunfar por 1 a 0, mesmo jogando no estádio Victor Brito Bastos, a casa do adversário.

Jogou no Flu e no Santos

Nascido em Caxambu-MG, no sul de Minas Gerais e a 630 quilômetros de Rio Preto, no dia 8 de novembro de 1930, Adhemar da Silva Xatara começou a jogar fute­bol no Crac (Clube Recreati­vo e Atlético de Caxambu). Também atuou no Atlético Caxambuense e no Flumi­nense da sua cidade natal.

Em 1948 foi contratado pelo Fluminense do Rio de Janeiro. Jogou nos aspiran­tes e depois no time princi­pal, com o lendário goleiro Carlos Castilho, Veludo, Pi­nheiro, Píndaro, Vilalobos, Pé de Valsa, Tite, Telê Santana, Didi, entre outras feras. 

Ficou no tricolor carioca até 1951, quando acabou ne­gociado com o Santos. O Pei­xe contava com o goleiro Manga, Chico Formiga, An­toninho e outros monstros sa­grados. Na temporada seguin­te veio para Rio Preto e dei­xou seu nome eternizado na história do futebol da cidade.

Na sua trajetória como jo­gador sofreu duas graves con­tusões. Quebrou a perna quando atuava pelo Flumi­nense e sofreu fratura no tor­nozelo quando defendia o América. Mas, com muita força de vontade, superou as lesões e deu continuidade à sua brilhante carreira. 

Duelo inesquecíveis contra os grandes

Durante o seu vínculo com o América, Xatara participou de memoráveis partidas. Em 23 de fevereiro de 1957, enfren­tou o Botafogo do Rio, de Gar­rincha, Didi e Nilton Santos, em amistoso no estádio Mário Alves Mendonça, que termi­nou com a vitória botafoguense por 4 a 2. Em 29 de março do mesmo ano, o Vasco da Gama, do centroavante Vavá Peito de Aço e do ponta-esquerda Pin­ga, também visitou o Rubro. Beneficiado pela arbitragem acabou vencendo por 3 a 1.

In­cluindo esses dois confrontos, Xatara defendeu o América em 13 vezes contra os chamados grandes, com três vitórias, dois empates e oito derrotas. O Ru­bro marcou 16 gols e sofreu 28. Uma das últimas aparições de Xatara com a camisa ameri­cana ocorreu no dia 23 de no­vembro de 1958, na vitória de 1 a 0 sobre o Palmeiras, pelo Paulistão, gol de Colada. Na temporada seguinte, ele retor­nou ao Rio Preto, também fa­zendo uma campanha brilhan­te na Segundona, com Belmi­ro, Alencar, Brotero, Bacurau, Benny e outros craques.

Cansado dos treinos, via­gens e jogos, decidiu pendurar a chuteira, mas continuou jo­gando como amador pelo Rio Preto até 1963. Foi bancário no extinto banco Alfomares, junto com o meia mineiro Nilsinho, que também marcou época no América e no Rio Preto. Xatara ainda trabalhou como porteiro em edifício residencial no cen­tro de Rio Preto. Ele morreu no dia 3 de junho de 1998, vítima de enfisema pulmonar. Deixou a viúva Clarice, os filhos Eliana Aparecida, Cláudia Maria e Fa­rah Nasser, além de sete netos.