A paz em campo alcançada pelo América após derrubar o líder Vocem na Segundona Paulista (4ª divisão) contrasta com o conturbado ambiente político. As eleições no clube estatutariamente estão previstas para primeira quinzena de agosto, porém, o interesse pelo poder já gerou um racha entre o atual presidente Luiz Donizete Prieto, o Italiano, e os membros do grupo “América Sempre Forte”, que compõem a atual diretoria.
Nesta segunda-feira, 26, o grupo anunciou oficialmente a sua saída da administração por falta de transparência e problemas de relacionamento com Italiano. Também lançaram um chapa que leva o nome do grupo (América Sempre Forte) encabeçada pelo conselheiro Dourival Lemes dos Santos para eleição. Italiano, por sua vez, rebate dizendo que o grupo tenta se promover politicamente pelo que fez pela agremiação.
Além da troca de farpas em redes sociais, os dois lados já deixaram bem claro o desejo político. “Na véspera de um jogo tão importante e eles preocupados com eleição. Você coloca os caras e estão fazendo panela por fora”, disse Italiano. Em 24 de novembro, Italiano empossou sua diretoria após o afastamento de José Carlos Pereira Neto, o Zé Branco, com membros do grupo formado por 97 pessoas entre torcedores, sócios, conselheiros e simpatizantes.
Mara Cristina Barbosa (social), José Augusto Velani (patrimônio e obras) e Cacaco Cunha (comunicação e marketing), além de Marcos Vilela (secretário-geral), Guilherme Modesto Medeiros (1º secretário), Osvaldo Marchini Filho (2º secretário), Marco Luis Sanches (tesoureiro) e Marcelo Polezi (1º tesoureiro). “Tudo começou quando arrecadaram mil e poucos reais dando a impressão que estão bancando tudo. 99% é por conta do América. Venda de carnê e de camisa é dinheiro do clube. Estou cobrando prestação de contas das vendas dos carnês. Falaram que arrecadaram R$ 60 mil, mas prestaram conta só de R$ 30 mil”, disse Italiano.
Candidato assumido, Italiano diz que continuará aceitando ajuda dos torcedores. “Traziam 5 quilos de carne uma vez por semana, mas a gente gasta 30 quilos por dia. Não venha aparecer às custas do América. Qualquer um pode disputar a eleição, mas não venha fazendo traição”, disse Italiano. “Organizamos o América, não é mais aquela palhaçada de antigamente. Elenco competitivo, base com parceria. Em pouco mais de três meses temos dez jogadores em clubes grandes. Se esse trabalho não for bom, não sei o que eles querem”, finalizou.
‘Italiano não mostra contas’
Até então diretor de comunicação e marketing do América, Cacaco Cunha, diz que Luiz Donizete Prieto, o Italiano, foi quem passou a se preocupar mais com eleição. “A gente chega lá a cozinheira está reclamando, que falta carne, que está lavando roupa e não recebe para isso”, disse Cacaco. “Conseguimos pagar as viagens, hotel e alimentação, isso é coisa que o presidente teria que fazer. Só estamos ajudando ele, que fala que é quem faz.”
Cacaco conta que foi atribuição do grupo “América Sempre Forte” arrecadar dinheiro para custear despesas com ambulância e gandulas. “Fui em várias empresas atrás de patrocínios e disseram que, enquanto estiver essa administração, não dão um centavo. Quero ver o Italiano tocar. O Marcos Cezar Vilela fez todos os laudos para liberação do estádio. Temos tudo isso em planilha. O Italiano não mostra a contabilidade dele”, emendou Cacaco.
Segundo Cacaco, foram vendidos 294 carnês de ingressos e somando com doações renderam R$ 30 mil - usados na reforma da laje sobre a sala da administração. Vilela conta que assinou um recibo de doação do trabalho que fez enquanto engenheiro para conseguir os laudos de liberação do estádio. “Protocolei a somatória de tudo, dá uns R$ 60 mil reais. Se fosse cobrar, seria R$ 17 mil, e fiz o recibo de doação de serviço, além da doação de material”, emendou Vilela, informando que a receita com as vendas das camisas será incluída nesta semana.
Sócio contribuinte desde a década de 1980, Vilela afirma que seguirá ajudando o clube independentemente da queda de braço política. “Se o Italiano estiver junto ou não, acima de tudo está o América. Só queremos que essa eleição seja em um alto nível, temos de debater em cima de propostas, não vou denegrir a imagem de ninguém.”
Dourival cobiça a presidência e se diz ‘salvador’
O ex-vereador e conselheiro do América Dourival Lemes dos Santos é a bandeira erguida pelo grupo “América Sempre Forte”. Ele encabeça a chapa para ser o novo mandatário com o objetivo de renovar o quadro administrativo do clube com pessoas do grupo. Nas conversas preliminares, teria dois vice-presidentes: Marcos Cezar Vilela e Benedito Teixeira Júnior. “Estou no América há quase 41 anos, se é uma situação de emergência, não vou poupar esforços, vou para o pau e levar o grupo comigo. Meu nome não apresenta renovação, mas salvação para esse momento administrativo”, disse Lemes.
Em conversas via redes sociais, o próprio presidente Luiz Donizete Prieto, o Italiano, havia prometido apoio a Lemes caso ele se candidatasse, porém, mudou o discurso. “O Italiano vinha dizendo que era contra a candidatura do Vilela, mas se pessoas como eu, o Luiz Carlos Jordani, o Osvaldo Graciani entrassem, abriria mão para apoiar”, disse Lemes.
Seu objetivo é assumir o posto de mandatário para dar mais poder ao grupo. “Estou preocupado com a reação do Italiano, fazendo críticas a esse grupo. Se não fosse o grupo, o América não estava nem disputando o campeonato. Ônibus sem tacógrafo, não tinha comida. Eu estou decepcionado com posicionamento do Italiano”, emendou Lemes, que afirma fazer parte de um grupo com 14 conselheiros que ajuda com R$ 500 mensais.
Conselho define colégio até julho
De acordo com o estatuto do América, os cerca de 90 conselheiros vitalícios e aproximadamente 900 sócios remidos, além de sócios contribuintes em dia, têm direito a voto na eleição da nova chapa do Conselho Deliberativo. Porém, a exatidão da quantidade de pessoas aptas ao pleito só deve ser definida no próximo mês. “Até 15 de julho temos de ter esse levantamento e a listagem”, disse o presidente do Conselho Deliberativo, João Eurides Rodrigues, que precisa convocar a Assembleia com dez dias de antecedência. Um trabalho árduo, já que o clube não possui uma secretaria em pleno funcionamento há anos.
Recentemente, uma empresa contratada pelo clube fez um trabalho de recadastramento dos proprietários de cadeiras cativas e camarotes. O recadastramento de sócio contribuinte, no entanto, ainda não está sendo feito. “Isso tem de ser definido pelo Conselho, se vão dar anuência aos que estão inadimplentes”, emendou. Segundo Rodrigues, o presidente Luiz Donizete Prieto, o Italiano, deve prestar contas dos recebimentos das contribuições sociais recebidas neste ano para assegurar o levantamento do colégio eleitoral.